Caso chocou o país e já provocou várias demissões
O centro de Bucareste converteu-se numa espécie de santuário a céu aberto. Velas, fotografias e cartazes recordam a trágica morte de Alexandra Macesanu, uma jovem romena de 15 anos que confiou na polícia, mas não foi ajudada a tempo.
Um caso que funcionou como rastilho de pólvora para protestos contra as autoridades do país, com mensagens claras.
"Não se trata apenas de uma situação trágica singular. Pode até não ter o mesmo nível de visibilidade, mas a violência contra as mulheres acontece todos os dias", denunciou, em entrevista à Euronews, a ativista e investigadora Irina Ilisei.
Números oficiais revelam que a violência contra as mulheres tem vindo a aumentar no país. Alexandra é disso exemplo. Foi assassinada por um sequestrador depois de chamar a polícia três vezes. Primeiro violada, depois morta e esquartejada, acabou também por ser queimada por um homem de 65 anos.
No ano passado registaram-se mais de 35 mil casos de violência doméstica e de género. Uma média de quase cem casos por dia.
O presidente romeno, Klaus Iohannis, prometeu punir todos os responsáveis pelo trágico episódio. A primeira-ministra, Viorica Dăncilă, por outro lado, demitiu ministros e chefes de polícia.
Mas as autoridades denunciam uma falta de cuidado com estratégias de recursos humanos e muito pouco envolvimento político.
"Sempre que uma nova figura política toma posse, nomeiam-se novos chefes de instituições subordinadas e o objetivo é servir interesses específicos", denunciou Gabriel Gîrniță, vice-presidente do sindicato de polícia Europol.
Em 2018, cerca de quatro mil crianças desapareceram, de acordo com documentos oficiais, e 400 nunca chegaram a ser encontradas.
As suspeitas apontam para redes de tráfico de pessoas, outro ângulo na investigação ao homicídio de Alexandra.
A Roménia está constantemente na lista dos cinco países da União Europeia com maior número de vítimas de tráfico humano. Meninas e jovens são levadas para o Reino Unido, Alemanha, Itália, França ou Espanha para exploração sexual.
"O facto de o cidadão romeno precisar de uma vida melhor ou de procurar um emprego melhor é perfeitamente justificável. Mas esta não é a causa do tráfico humano. Quando se tem, por exemplo, uma elevada procura de serviços sexuais e há muito dinheiro a realizar, é o momento em que as organizações criminais entram em ação", lembrou Ciprian Ghituleasa, da agência romena antitráfico.
Laurentiu Colintineanu, Euronews - A consternação pública no rescaldo do homicídio de Alexandra Macesanu está a aumentar a pressão sobre o governo para fazer reformas nos serviços romenos da linha da frente. Especialmente no que diz respeito à polícia e ao sistema judicial. Mas num país em que a violência doméstica continua a ser uma realidade, a morte trágica da jovem pode ser um catalisador de mudança não só ao nível estatal como também de mentalidade para os romenos.