Violência Doméstica: assassinatos de mulheres em França geram alerta

Violência Doméstica: assassinatos de mulheres em França geram alerta
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De  Laurence AlexandrowiczMonica Carlos
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Mais de 130 mulheres foram mortas em França pelos seus companheiros desde janeiro.

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À noite, um grupo de jovens faz colagens de letras que formam frases chocantes. As jovens ativistas, na sua maioria estudantes, colocam os seus pósteres nas paredes das principais cidades francesas para denunciar a violência contra as mulheres. Querem fazer a diferença.

"O nosso objetivo é informar o público sobre femicídios, honrar a memória das vítimas, e incitar todas as mulheres vítimas de violência a reagirem e denunciarem abusos e a sentirem-se apoiadas," explica Camille.

Mais de 130 mulheres foram mortas em França pelos seus companheiros desde janeiro. Uma em cada dois dias. De acordo com os números mais recentes sobre femicídios, a França tem as taxas mais altas da União Europeia.

No início de setembro, o governo francês lançou uma consulta pública de três meses sobre a violência doméstica, com vista a encontrar soluções.

No hospital de Saint-Étienne, o médico legista Michel Debout regista os ferimentos e, por vezes, a morte de vítimas de violência doméstica. O psiquiatra está hoje com Karine, vítima de 4 anos de abusos que apresentou queixa nos finais de 2018, poucos meses depois de mais uma agressão violenta por parte do companheiro.

"Às cinco da manhã, entrou pelo quarto das crianças adentro e atacou-me, puxando-me pelo cabelo até à sala. Atirou-me para cima da mesa de centro e depois para o sofá, estrangulando-me ... foi nesse momento que as crianças, principalmente a mais velha, gritaram: não mates a mãe, não mates a mãe..." descreve Karine.

Uma das idéias do governo francês é generalizar a apresentação de queixas diretamente no hospital mas Michel Debout discorda. "É uma boa ideia falsa. Existem lugares específicos para cada fim: a polícia para apresentar queixa, o hospital para a vítima ser ouvida, tratada e acompanhada, e as associações para encontrar solidariedade. É preciso respeitar estes três espaços," disse.

Outra área de reflexão é a utilização das esquadras de polícia para lidar de forma mais eficaz com o problema. A medida é muitas vezes criticada pelas vítimas mas é indispensável para evitar, muitas vezes, o pior. Um terço das mulheres mortas em 2018 tinham anteriormente apresentado queixa à polícia.

De acordo com Marion Tomei, chefe de polícia na cidade de Lyon, os profissionais de polícia estão devidamente preparados para lidar com casos de violência doméstica. “Tanto as associações como especialistas, médicos legistas, e autoridades judiciais oferecem formação em todas as escolas de polícia de França sobre como gerir estes casos e ouvir as vítimas," afirmou.

Para proteger a vítima muitas vezes é necessário agir rápidamente. Em cada esquadra, um agente responsável por casos de violência doméstica colabora com esse fim com uma assistente social.

Em 2016, 15% dos homicídios ocorreram num contexto conjugal e 87% das vítimas eram mulheres. Na maioria dos casos, devido à recusa do parceiro em aceitar a separação.

Os centros de acolhimento registraram um aumento de queixas de 20%, indício da tendência crescente para a denúncia por parte das vítimas graças a incentivos como o do movimento #Metoo, que abriu caminho para um espetacular progresso na questão íntima e privada da violência doméstica.

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