Companhia alemã encena peça em que os espectadores não saem do carro. O texto de "O Método" retrata uma sociedade em 2057 afetada por um vírus em em que o isolamento social é o tratamento
A companhia municipal de Teatro de Gotinga, na Alemanha, descobriu a forma de driblar o vírus e ter público todos os dias. Escolheu uma obra que fala da saúde como obsessão e do isolamento como solução. "O Método" é inspirado no livro "Corpus Delicti", de Juli Zeh. Uma história que se conta em quatro cenários. Acessíveis apenas de carro.
A atriz Marina Lara Poltman explica que a ideia de usar o parque de estacionamento surgiu quando se tornou impossível usar o palco. Este modelo é especial - conta - "as pessoas vão sentadas no carro, de janelas fechadas, sem possibilidade de ter contacto físico com outros".
A Deutsches Theater de Gotinga é uma companhia municipal. Não tem de se preocupar em pagar salários, como acontece com os coletivos privados. Assumem por isso que tiveram a liberdade de encenar uma peça sem constrangimentos financeiros.
O diretor explica que a ação foi desenhada em forma de percurso . Erich Sidler diz que é natural que, dentro do carro a ver os atores, os espetadores "tomem consciência de um isolamento redobrado". Explica que "o som é enviado para dentro dos carros", criando uma "intimidade através da acústica". Uma "discrepância que as pessoas conhecem bem" porque "estiveram nas últimas semanas a gerir proximidade e distância".
A peça apresenta uma sociedade fria e assética, transformada por um vírus.
Como se fossem quadros de Hoper, os atores encarnam personagens que passaram de seres sociais a zombies isolados.
12 carros têm o privilégio de assistir diariamente a esta composição que deu nova vida à garagem do Teatro de Gotinga. Os bilhetes estão esgotados para todas as sessões.