Condutores britânicos têm de circular na UE com a carta verde

Após o período de transição do Brexit, que termina a 31 de dezembro, todos os condutores do Reino Unido que cruzem a fronteira para território da União Europeia (UE) vão ter de transportar consigo uma carta verde referente ao seguro automóvel.
Esta é uma das mudanças previstas, para já, no divórcio do Reino da Unido e da União Europeia, e entra em vigor por defeito, exista ou não um acordo de circulação entre os dois territórios.
De acordo com uma nota recentemente publicada pelo governo britânico, "a partir de 1 de janeiro, viajar para a UE, Suíça, Noruega, Islândia ou Liechtenstein vai mudar".
Uma das maiores ondas de choque destas mudanças em perspetiva vai sentir-se na fronteira entre as duas Irlandas, onde esteve a Euronews esta semana para perceber como está a ser acolhido este novos processos.
O setor dos transportes comerciais é, naturalmente, um dos mais receosos.
Além de um passaporte com pelo menos seis meses de validade e menos de 10 anos de utilização que passará a ser obrigatório para entrar na maioria dos países da UE, pode vir a ser também necessário uma carta de condução internacional.
Mas estas serão regras que não se aplicam para entrar na República da Irlanda, onde basta ter um passaporte válido e a carta de condução britânica vai continuar a ser aceite.
Mesmo assim, em Newry, uma pequena cidade da Irlanda do Norte, junto à fronteira, há preocupação.
Ouvimos um homem que trabalha na Irlanda e vive na Irlanda do Norte. "Tendo de andar para cima e para baixo todos os dias, seria inconveniente ter de pedir isto. E quantas vezes teria de o pedir?", questionou, concretizando: "É uma preocupação para mim."
Outro, cidadão irlandês com passaporte, diz-se preocupado por "ter de mostrar os documentos para atravessar a fronteira para sul".
Um outro cidadão mostrou-se preocupado com "o aumento da despesa nas seguradoras porque vão ter de processar mais papéis e burocracia".
"O facto de as seguradoras já terem disponibilizado (as cartas verdes), significa que irá haver algum controlo. Por isso, vamos ser controlados no outro lado da fronteira e isso também representa mais trabalho para os agentes alfandegários e guardas numa altura em que eles deviam ter menos", defendeu este último.
De acordo com o governo irlandês, esta requisição de uma carta verde do seguro será apenas a primeira de "muitas mudanças" que vão surgir com o Brexit.
"Muitas destas mudanças, não as desejamos. Infelizmente, vão ser difíceis para as pessoas de ambos os lados da fronteira. A carta verde dos seguros é atualmente um requerimento da Comissão Europeia para os veículos oriundos de fora da UE. Pode mudar essa exigência, mas para já não temos qualquer indicação", explicou-nos Thomas Byrne, o ministro dos Assuntos Europeus na Republica da Irlanda.
O enviado especial da Euronews a Newry, na Irlanda do Norte, diz-nos que este regime da carta verde no plano pós-Brexit "será uma das obrigações caso o Reino Unido não chegue a acordo com Bruxelas".
"Muitos motoristas profissionais na Irlanda do Norte receiam que este processo burocrático imposto nas suas viagens diárias seja apenas um aperitivo amargo para o que aí vem", conclui Ken Murray.