Cumpre-se este domingo uma década sobre o derrame de lamas tóxicas na cidade de Ajka, na Hungria, que provocou a morte de 10 pessoas e enormes prejuízos. A sentença pode ser conhecida em novembro
O maior desastre industrial da Hungria aconteceu faz este domingo 10 anos, mas somente em novembro se prevê haver um veredito final no julgamento dos alegados responsáveis pela tragédia.
A 4 de outubro de 2010, uma fábrica de alumínio próxima da cidade Ajka, 100 quilómetros a sudoeste de Budapeste, sofreu um derrame de lamas vermelhas tóxicas, afetando diversas localidades vizinhas e provocando a morte de 10 pessoas além de enormes danos materiais e ambientais.
O reservatório ainda hoje tem visível a fissura que deu origem ao derrame, mas já não são ali armazenados os detritos tóxicos, conta-nos o correspondente da Euronews na Hungria, Ádám Magyar, explicando que "as habitações mais próximas do local estavam a menos de um quilómetro".
A dona de um bar na vila de Kolontár, próxima de Ajka, teve sorte, estava no trabalho. Os sogros não. O casal de octogenários refugiou-se na casa de banho quando a lama lhes chegou a casa.
"A avó ajudou o avô a entrar para a banheira e depois ele puxou-a a ela. A pobre senhora pôde ver tudo pela pequena janela da casa de banho", recordou à Euronews Gizella Német, detalhando que "a banheira tinha 80 centímetros de altura, mas a lama que lhes entrou pela casa tinha mais 80 centímetros que a banheira". "Eles temeram pela vida", garante.
Os familiares de Gizella ficaram feridos, mas sobreviveram.
As casas do bairro tiveram de ser demolidas. Apenas uma se mantém ainda de pé. Pertenceu a uma das vítimas e serve de recordação daquele dia.
Os sobreviventes uniram-se para ultrapassar a tragédia.
"Toda a gente ainda pensa no que se passou. Nem podia ser esquecido. Mas, agora, a comunidade está a construir na vila", contou-nos Sándorné Buzás, sobrevivente e ainda residente em Kolontár.
Erzsébet Rádl também passou pelo susto, já não reside na vila e assume ser "difícil falar sobre aquele dia".
"Temos de olhar para o futuro. Não podemos ficar presos no passado. Temos de andar para a frente", defende Erzsébe Rádl.
A cidade a seguir a ser atingida pelas lamas tóxicas foi Devecser. Também sofreu muitos danos. Uma nova área residencial, com médico e um parque desportivo, foi entretanto criada para aqueles que ali perderam as casas.
Um grupo de estudo da catástrofe acusa, no entanto, o governo de não se ter preocupado com as consequências de longo prazo do acidente. Tanto a nível social como de saúde.
"A gestão de uma catástrofe não pode terminar quando se conclui a recuperação material dos danos. Há outros fatores sensíveis a ter em conta e que são muito importantes para a vida humana como acompanhar os sobreviventes durante um longo período de tempo", defende o investigador de comunicação Gábor Sarlós.
O grupo de estudo defende que o acompanhamento de longo prazo pode ajudar as pessoas a enfrentar novas situações de crise como a atual pandemia.
A história do acidente de Ajka está longe de acabar. O processo legal contra os alegados responsáveis pela tragédia continua aberto. Como já referido, o veredito final pode ser conhecido já em novembro. Dez anos depois...