"Fome no mundo está relacionada com conflitos"

Nunca antes o objetivo do Programa Alimentar Mundial (PAM) foi difícil de atingir como este ano. A pandemia de Covid-19 exigiu da agência o dobro dos esforços, o que lhe abriu a porta para o reconhecimento com o Prémio Nobel da Paz.
Amir Abdulla, vice-diretor executivo do PAM, explîca que "quando o impacto da Covid se fez sentir, as linhas de fornecimento sofreram restrições e as fronteiras começaram a encerrar. O Programa Alimentar Mundial tem a função de ser um braço do sistema humanitário e de desenvolvimento. Quando muitas companhias aéreas não estavam a voar, nós estávamos a operar uma companhia aérea de, digamos, tamanho médio. Estamos, ao mesmo tempo, a distribuir carga e transportar pessoas por via aérea".
No último ano, o grupo providenciou ajuda alimentar para quase cem mil pessoas de mais de 80 países.O vice-diretor executivo do PAM garante que 10 dos 13 piores cenários de fome são originados por conflitos. Republica Democrática do Congo, Sudão do Sul, Afeganistão, Síria e, mais recentemente, no nordeste da Nigéria são algumas das regiões países no topo da prioridade da agência das Nações Unidas, e onde o trabalho é mais penoso.
O Iémen, devastado pela guerra, permanece a pior crise humanitária do mundo, com 20 milhões de pessoas a sofrerem fome de malnutrição. É um dos palcos mais dispendiosos nas operações do Programa Alimentar Mundial. Se há alguma coisa que o prémio Nobel pode ajudar, é o de colocar a crise no Iémen novamente em destaque.
"Espero que atraia a atenção para o facto de não conseguirmos acabar com este tipo de fome sem terminarmos com o conflito. Por isso a forma real de acabar com as necessidades no Iémen é acabar com o conflito. Claro que esse não é o nosso papel primário, o nosso objetivo principal acaba por ser o de lidar com as consequências, as consequências da fome".
O Prémio Nobel reconhece o a atividade da organização, na linha da frente, desenvolvida há mais de 50 anos, mas haverá sempre lugar para melhoramentos. “O que nós gostaríamos de fazer mais, é sobre que já dissemos. Diz respeito à agenda para mudar as vidas, que se trata de facto de ajudar as pessoas na construção da sua resiliência no Sahel. Na África Ocidental há uma grande oportunidade para fazermos isso. Sim, existem zonas de conflito mas existem muitas outras áreas em que, se erguermos a resiliência das pessoas agora, prevenimos conflitos no futuro", diz Amir Abdulla.
Covid-19 e alterações climáticas, são alguns dos grandes desafios do futuro.
De acordo com o PAM, o verdadeiro prémio seria precisarmos muito menos da agência dentro de 10 anos.