Marcelo promete ser da união e não "de fação"

Mais votos e maior percentagem do que há cinco anos. Marcelo Rebelo de Sousa arruma na primeira volta a reeleição para a Presidência da República Portuguesa. Uma vitória comemorada sem estrondo - Porque o tempo é de pandemia, mas também porque os resultados baralharam o xadrez político português e obrigaram Marcelo a fazer o discurso da união.
"Tenho a exata consciência de que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, prometendo "continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses, um Presidente próximo, um Presidente que estabilize, um Presidente que una, que não seja de uns, os bons, contra os outros, os maus, que não seja um Presidente de fação, um Presidente que respeite o pluralismo e a diferença, um Presidente que nunca desista da justiça social".
No edifício da Faculdade de Direito de Lisboa, o Chefe de Estado considerou que o voto dos portugueses respondeu "à pergunta crucial acerca do que não querem e do que querem para Portugal nos próximos cinco anos", e não querem, entre outras coisas, "uma radicalização e um extremismo nas pessoas, nas atitudes, na vida social e política".
O Presidente da República elegeu o combate à pandemia como prioridade única imediata, mas nos objetivos para os próximos anos incluiu "refazer os laços desfeitos, quebrar as barreiras erguidas, ultrapassar as solidões multiplicadas, fazer esquecer as xenofobias, as exclusões, os medos instalados", assim como "recuperar e valorizar todos os dias as inclusões, as partilhas, os afetos, as cidadanias esvaziadas pela pobreza, pela dependência, pela distância".
Dos 0% aos 11,9% em menos de três anos
Ana Gomes, com 12,97% foi uma das derrotadas da noite. Sem o apoio oficial do PS, falhou na intenção de levar Marcelo à segunda volta e quase perdia para André Ventura. A diplomata e antiga eurodeputada socialista voltou a acusar o PS de ter desertado das eleições e apontou o secretário-geral, António Costa, como o “principal responsável” por essa deserção.
O candidato da extrema-direita fechou a noite a cantar vitória com 11,9% dos votos. Foi o segundo vencedor da noite. Ganhou expressivamente no interior e até ultrapassou o PCP no Alentejo. Para André Ventura, a extrema esquerda foi "esmagada" nesta eleição.
Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, teve menos de metade da votação de há cinco anos. Aliás, é preciso recuar a 2001 para encontrar um resultado pior numa candidatura exclusivamente apoiada pelo BE, quando o fundador Fernando Rosas conseguiu apenas 2,98% dos votos, quase 129 mil, ficando em quarto lugar de cinco candidatos.
João Ferreira, apoiado pelo PCP, segurou a custo o quarto lugar. O candidato, apontado como sucessor de Jerónimo de Sousa à frente do partido, obteve 4,32% dos votos - um resultado saudado pelos comunistas, apesar de ser o segundo pior desde 1976.
À direita, a Iniciativa Liberal estreou-se no apoio a um candidato, Tiago Mayan Gonçalves, que alcançou 3,22% dos votos - um resultado entendido como um "crescimento da onda liberal".
No fim da lista ficou Vitorino Silva, o calceteiro mais conhecido por Tino de Rans, obteve 2,94% - 122 mil votos, menos 30 mil dos que tinha tido há cinco anos.
Começa a campanha para as autárquicas
Ventura teve quase meio milhão de votos. Estão por avaliar os impactos deste resultado no panorama político português, numas eleições marcadas pela maior abstenção de sempre - mais de 60% dos eleitores não votaram.
A oito meses das eleições autárquicas, o candidato e presidente do Chega foi o segundo mais votado em toda a faixa interior do país (Bragança, Vila Real, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora e Beja) e em Leiria, Faro e na Madeira. Foi assim em 204 dos 308 concelhos.
André Ventura avisou o homólogo do PSD, Rui Rio, sobre o peso eleitoral reforçado do partido.
"Não há segundas-vias depois desta noite. Hoje ficou claro em Portugal e para a Europa e para o Mundo que não haverá Governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental. Não há volta a dar. PSD, ouve bem, não haverá governo em Portugal sem o Chega!", gritou no discurso de domingo à noite.