Josep Borrell contra-argumenta que a diplomacia passa por ter a coragem de ir até ao campo do adversário para propor um diálogo construtivo. O chefe da diplomacia também referiu que foi claro na condenação da repressão levada a cabo pelo regime do presidente Putin.
Após o desaire da visita de Josep Borrell a Rússia, classificada como "humilhante" por várias vozes, há quem peça a demissão do chefe da diplomacia da União Europeia.
O ex-chefe militar estónio Riho Terras, agora eurodeputado, escreveu uma carta assinada por cerca de seis dezenas dos seus colegas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Josep Borrel é vice-presidente do executivo comunitário, na sua qualidade de alto representante para política externa da União.
"Percebo que se queira dialogar mas, num ringue de gelo, se uma equipa pratica hóquei, a outra não pode fazer patinagem artística. E foi isso que aconteceu em Moscovo. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia fez troça de Josep Borrell, humilhou-o, atacou nossos aliados, os EUA, atacou a União Europeia. Eu tinha a expetativa de que Josep Borrell percebesse quão humilhante foi a situação e tivesse apresentado demissão", disse Riho Terras, em entrevista , segunda-feira, à euronews.
Não dar outravitória a Putin?
Josep Borrell contra-argumenta que a diplomacia passa por ter a coragem de ir até ao campo do adversário para propor um diálogo construtivo. O chefe da diplomacia também referiu que foi claro na condenação da repressão levada a cabo pelo regime do presidente Putin no seguimento da detenção do opositor Alexei Navalny.
Bernard Guetta, eurodeputado liberal francês, defende essa leitura dos acontecimentos, em entrevista à euronews: "Não vejo por que razão o Parlamento Europeu deveria dar uma vitória ao presidente Putin, quando o presidente acaba de sofrer uma derrota política bastante considerável. A crise existe em Moscovo, não em Bruxelas", disse.
"Existem, obviamente, nuances, talvez até diferenças na União Europeia, sobre que tipo de sanções devem ser aplicadas contra a Rússia. Eu e muitos dos meus colegas eurodeputados consideramos que mais do que sancionar a Rússia, é preciso sancionar as pessoas do círculo do presidente Putin", acrescentou.
De recordar que, no dia em que Borrell estava em Moscovo, o governo russo decidiu expulsar três diplomatas de países da União Europeia (Suécia, Alemanha e Polónia), alegando que participaram em manifestações de apoio a Navalny.
A decisão foi considerada uma grande ofensa diplomática e os três países também decidiram expulsar um diplomata russo, cada um, esta segunda-feira.
Sanções contra a economia ou contra pessoas e os detalhes da missão de 4 de fevereiro serão abordados com Josep Borrell no próximo conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da União, dentro de duas semanas.