Relatório anual da Amnistia Internacional não poupa as políticas que promovem uma "variante tóxica de políticos"
A pandemia enraizou desigualdades e promove a arbitrariedade. É o diagnóstico social do impacto da Covid-19 no mundo feito pela Amnistia Internacional. A organização considera que a pandemia veio amplificar a tendência das últimas décadas: os nacionalismos execerbam-se e a discriminação agrava-se.
A organização diz que os países pobres são os mais impactados pela pandemia e acusa os ricos de virarem a cara.
"Quando é levantada a questão de que se conseguíssemos aumentar a produção de vacinas, então talvez os países pobres tivesssem maiores possibilidades de a obterem, o que dizem os Estados Unidos e a União Europeia? Dizem 'não'. Não estamos preparados para abrir a patente da vacina. Não estamos preparados para partilhar o conhecimento," afirma Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional.
O relatório de 2020 denuncia casos de abuso de poder grave a coberto da pandemia. Dá o exemplo do golpe de Estado em Myanmar e das Filipinas, onde o presidente deu ordem para atirar a matar aos que não cumprissem a quarentena.
"Os governos usaram a pandemia de Covid-19 como uma arma para atacar os direitos humanos. Os piores casos aconteceram onde governos recorreram a detenções em massa a coberto das restrições impostas pela Covid-19," denuncia Netsanet Belay, diretor de Investigação da Amnistia Internacional, entrevistado pela Euronews.
Para a Amnistia Internacional, a pandemia revelou uma "variante tóxica de líderes políticos", mas também de políticas mesmo nas democracias saudáveis. Décadas de austeridade e falta de investimento nos serviços públicos de saúde dificultam ainda hoje a resposta clínica. A organização relata ainda casos de intimidação a profissionais essenciais.