Cimeira virtual de líderes promovida pelo Presidente dos Estados Unidos junta União Europeia, China e Rússia num debate para coordenar batalha contra as alterações climáticas
Um Dia Mundial da Terra com impacto positivo global no futuro sustentável do planeta, este é o objetivo da cimeira de líderes de dois dias, que começa esta quinta-feira, promovida pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Na véspera, a União Europeia aprovou a primeira Lei do Clima para os "27", que o primeiro-ministro de Portugal, atualmente na presidência rotativa do bloco, enalteceu como "mais um compromisso concretizado".
"É um sinal inequívoco da determinação da UE no combate às alterações climáticas e um bom presságio para a Cimeira do Clima" de hoje, considerou António Costa, numa publicação nas respetivas redes sociais.
Depois de os Estados Unidos se terem retirado do Acordo de Paris pela "caneta" de Donald Trump, Joe Biden recolocou os norte-americanos na aliança global estabelecida em 2015 logo no primeiro dia de trabalho na Casa Branca.
E agora, com esta Cimeira de Líderes pelo Clima em pleno Dia Mundial da Terra, a mensagem de Joe Biden é a de que "a crise climática no planeta, e sobretudo nos Estados Unidos, o maior emissor de gases do mundo, é tão importante que, no quadro dos 100 dias da presidência ele convidou os líderes das maiores economias do mundo para discutir este problema", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
A expetativa é de que o Presidente norte-americano tenha um importante trunfo ambiental para colocar na mesa: fala-se de um plano para cortar até 2030 pelo menos 50% nos gases de efeito de estufa emitidos pelos Estados Unidos, com base nos níveis de 2005.
A redução significativa das emissões de gases poluentes é um dos objetivos previstos no Acordo de Paris, mas para o qual é necessário, claro, uma sintonia entre os diversos países poluentes para, de facto, se conseguir um impacto no futuro sustentável do planeta.
Do lado europeu, foi já anunciado de véspera um novo e ambicioso objetivo: o corte de pelo menos 55% das emissões poluentes até 2030, 15% acima do que foi acordado em Paris há seis anos, com base nos níveis de há 30 anos.
"Os Estados Unidos não são o nosso 'grande irmão' no clima. Nós somos o 'grande irmão' ou 'a grande irmã'. Por isso, eles vão ser encorajados por isto. Vão ser pressionados e ter de apresentar resultados quando perceberem que nós conseguimos", afirmou a eurodeputada sueca Jytte Guteland, relatora da nova Lei europeia do Clima.
A 26 de março, a Casa Branca anunciou ter enviado o convite de Joe Biden a 40 governantes mundiais para participarem na cimeira de líderes sobre o Clima, esta quinta e sexta-feira (22 e 23 de abril), concretizando uma promessa que o Presidente havia feito a 27 de janeiro, poucos dias depois de ter assumido a função e de ter recolocado os EUA no Acordo de Paris.
"A Cimeira de Líderes sobre o Cima vai sublinhar a urgência - e os benefícios económicos - de uma ação climática mais forte. Será um marco importante no caminho para a Conferência das Nações unidas sobre as Alterações climáticas (COP26), em novembro, em Glasgow", perspetivava a Casa Branca no comunicado de há quase um mês.
Tanto o presidente da China como o da Rússia, dois históricos rivais dos Estados Unidos, aceitaram o convite para a cimeira virtual de líderes pelo clima.
Será a primeira vez que Xi Jinping e Joe Biden participam num mesmo evento desde que o norte-americano assumiu a Casa Branca e acontece numa altura em que a relação China-EUA está a ser afetada pelos receios manifestados pelas movimentações chinesas perto de Taiwan, um território autónomo reclamado por Pequim e apoiado por Washington, e pelo alegado abuso dos direitos humanos e civis dos residentes em Hong Kong e em Xinjiang, escreve o Financial Times.
Em Moscovo, no discurso à nação proferido quarta-feira, Vladimir Putin falou da necessidade de combater as alterações climáticas através da modernização de diversos setores.
"Temos de ajustar [aos desafios das alterações climáticas] a nossa agricultura, a nossa indústria, a habitação, os serviços públicos e todas as infraestruturas para criarmos um setor de utilização do carbono, reduzir as emissões e implementar medidas rigorosas de controlo e monitorização [das emissões poluentes]", afirmou o líder do Kremlin, considerando que as cidades russas devem estabelecer quotas de emissões de gases de poluentes.
A Cimeira de Líderes sobre o Clima, promovida por Joe Biden entre hoje e amanhã, irá contar ainda com as participações, entre outras, de Charles Michel, presidente do Conselho Europeu; de Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, outro dos países mais poluentes do mundo; Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, que tem sido criticado pela gestão da floresta da Amazónia; Emmanuel Macron, presidente de França; Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, pela primeira vez como país independente da União Europeia; o secretário-geral da ONU, o português António Guterres; e o Papa Francisco, o líder da Igreja Católica.
A cimeira integra ainda uma sessão dedicada ao setor privado, onde estarão representados o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial; outra dedicada a iniciativas locais, com a participação de Paris, Cidade do México ou Nova Orleães; outra sobre segurança global, com diversos ministros da Defesa e o secretário-geral da NATO.