Angela Merkel: De "menina" de Kohl a "mãe" da Alemanha

Angela Merkel: De "menina" de Kohl a "mãe" da Alemanha
Direitos de autor Matthias Schrader/Copyright 2019 The Associated Press. All rights reserved
Direitos de autor Matthias Schrader/Copyright 2019 The Associated Press. All rights reserved
De  Maria BarradasEuronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Angela Merkel prepara-se para deixar a cena política, como a mulher que conseguiu a maior longevidade governativa em democracia: 16 anos

PUBLICIDADE

Angela Dorothea Kasner nasceu em Hamburgo em 1954, mas cresceu numa aldeia na Alemanha Oriental, o que forjou o seu caráter.

Foi pela mão de Helmut Kohl que obteve o seu primeiro posto ministerial e que iniciou a sua carreira política. Mas não hesitou em "matar o pai", quando, em 1998, Khol perde a eleição e surge o escândalo dos subornos. Merkel virou-lhe as costas, assim como o partido, a CDU.

Com a sua eleição em 2005, Merkel deu início a uma carreira de longevidade governativa sem paralelo em democracia. Conheceu cinco primeiros-ministros britânicos, quatro presidentes dos EUA, quatro presidentes franceses e oito primeiros-ministros italianos, numa dinâmica política de forte envolvimento interno e externo.

Na cimeira do G8 de 2007, deu as boas-vindas aos chefes de governo e brindou com Barack Obama. Mas as relações com os Estados Unidos nem sempre foram pacíficas. Em 2013, sob o comando de Obama, eclodiu o escândalo da espionagem da NSA. Ela própria estava a ser vigiada. Com Trump a situação piorou. O presidente americano negou-lhe uma vez um aperto de mão e ignorou-a muitas vezes, como na reunião do G7 em que foi o único líder a recusar assinar uma declaração conjunta proposta por Merkel para evitar uma guerra comercial.

Apesar da sua reputação de teimosia, confirmada durante a crise financeira, quando insistiu na austeridade, mesmo com o sofrimento que implicava para os países do sul, Merkel também soube moderar o tom em momentos decisivos, como em 2015, face à situação dos refugiados das guerras na Síria e no Iraque. A Alemanha acolheu um milhão de pessoas, após o choque de ver o rapaz Aylan afogado numa praia.

Foi com a crise migratória que a sua popularidade atingiu os valores mais baixos, ao ser confrontada pela extrema-direita, mas o seu tratamento da pandemia do coronavírus foi amplamente aplaudido. O governo alemão tomou medidas imediatas para salvar a economia e aumentar a despesa pública. Algo que não era esperado da "chanceler da austeridade".

Angela Merkel navegou em águas económicas e políticas muitas vezes adversas e perigosas. Mas a sua capacidade negocial fê-la passar da "menina" de Khol a "mãe" da Alemanha, capaz de enfrentar tudo.

Mulher de contradições: capaz de ser austera e sensível; distante e atenciosa, a "mãe" da Alemanha, deixa lições de política e diplomacia e leva consigo o maior segredo da sua chancelaria: um carisma esculpido na ausência de carisma.

Mas, apesar de certo, o momento do adeus pode ainda demorar. Dado que foram necessários seis meses para formar um governo nas últimas eleições na Alemanha, muitos analistas acreditam que Merkel irá cantar as canções de Natal ainda como chanceler.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Três alemães detidos por suspeitas de espiarem para a China

Tempestade de neve na Baviera provoca caos nas autoestradas

Líder regional do partido de extrema-direita AfD é julgado por utilizar símbolos nazis