Relatório acentua desconfiança e protestos à porta da COP26

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Direitos de autor Alastair Grant/The Associated Press
De  Francisco Marques
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A atualização do "Projeto Global do Carbono" e a revelação de um quadro legal que protege empresas poluentes acentuam revolta dos ecologistas

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A desconfiança dos ecologistas nos compromissos anunciados na atual Conferência das Partes das Nações Unidas, a decorrer em Glasgow, foi reforçada com a divulgação do relatório do "Global Carbon Project" ("Projeto Global do Carbono").

O estudo atualizado revela que as emissões de CO2, o principal gás com efeito de estufa e resultado do uso de combustíveis fósseis, aumentou este ano para níveis pré-pandemia e devem fechar 2021 com valores próximos aos de 2019, anulando a queda observada após o mundo confinar para travar a Covid-19.

Outro dado que ameaça inflamar o protesto dos ativistas é a revelação de uma parte do quadro legal do "Tratado da Carta da Energia", assinado em 1994 e implementado quatro anos depois.

De acordo com o jornal britânico Guardian, houve já um aumento dos pedidos de compensações ao abrigo desse quadro legal, que permite às empresas processarem os governos pela implementação de políticas que lhes prejudiquem os lucros.

"É uma verdadeira ameaça [ao Acordo de Paris]. É a maior ameaça que eu conheço", admitiu Yamina Saheb, uma antiga funcionária do secretariado do TCE, citada pelo Guardian.

Saheb, que é coautora do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, deixou o lugar no TCE em 2018 e deu o alarme. A agora ativista estima que as empresas podem processar os governos e pedir indemnizações até 1,3 biliões de euros até 2050 para compensar o encerramento compulsivo de fábricas a carvão, petróleo e gás, ou a sua adaptação às energias renováveis na década já em curso, como ficou definido em Paris.

Protestos à porta da COP26

Entretanto e já com as emissões de CO2 de novo em alta, os protestos à porta da cimeira do clima mantêm-se também em volume alto, com os ecologistas a reclamarem, em Glasgow, de uma alegada "lavagem verde" por algumas das companhias mais poluentes depois de os investidores anunciarem biliões de euros em projetos para travar o aquecimento global.

As manifestações junto à COP26 estão a motivar uma forte mobilização policial. No entanto, salvo alguns empurrões, a marcha ecologista cumpriu-se, quarta-feira, de forma pacífica.

Dentro da cimeira, o dia foi dedicado ao debate financeiro das propostas acordadas pelos líderes mundiais para travar as alterações climáticas e manter o planeta no rumo definido há seis anos pelo chamado Acordo de Paris.

O Acordo de Paris

O Acordo de Paris estabelecido em 2015 é um tratado internacional juridicamente vinculativo sobre as alterações climáticas. Foi adotado por 196 entidades no decorrer da COP21, em Paris, a 12 de dezembro de 2015 e entrou em vigor a 4 de novembro de 2016

O compromisso estabelecido foi o de reduzir o aquecimento global abaixo dos 2°C, preferencialmente no limite de 1,5°C, tendo por base os níveis pré-industriais.

Para atingir esse objetivo no longo prazo, os países propõe-se a alcançar o mais rápido possível o teto máximo estabelecido para as emissões de gases de efeito de estufa de forma a conseguir-se um clima neutro no planeta em meados do século XXI.


Fonte: Portal da ONU para as Alterações Climáticas (UNFCCC)

Esta quinta-feira, a COP26 é dedicada ao processo da transição energética, numa discussão agora pressionada pelo referido relatório do "Projeto Global do Carbono", que sublinha o agravamento, acima do esperado para este ano, do uso de combustíveis fósseis, em vez da prometida maior aposta nas energias renováveis.

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