O impacto do poder de compra nas eleições presidenciais de França

O impacto do poder de compra nas eleições presidenciais de França
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De  Laurence Alexandrowiczcom tradução de Francisco Marques
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Os franceses têm-se queixado da perda de poder de compra, com o vazio na carteira agora também sob ameaça de agravamento pela invasão russa da Ucrânia. Irá o eleitorado penalizar o governo ou acentuar o desinteresse nas urnas?

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Com os franceses chamados às urnas este domingo para elegerem um novo presidente, a grande preocupação no país passa pelo poder de compra dos cidadãos. Já era assim antes da guerra na Ucrânia ou do impacto das alterações climáticas, mas agora tende a agravar-se.

A Euronews visitou um supermercado solidário nos arredores de Lyon, o EPI San Priot, onde as pessoas mais vulneráveis podem adquirir produtos a preços mais em conta graças a doações individuais, ao banco alimentar ou aos supermercados tradicionais.

A diretora deste estabelecimento solidário, Christine Vincent, explicou-nos que a ajuda aos mais desfavorecidos é possível porque os fornecedores que encontrou lhe permitem adquirir os produtos "30% abaixo do preço médio do mercado".

Os clientes que ali se podem abastecer são selecionados de acordo com os respetivos recursos e são na maioria idosos ou mães solteiras.

É o caso de Aurélie, que tem três filhos: "Em certos produtos, como por exemplo comida para bebé, tenho um de oito meses, em vez de pagar quatro euros, pago dois e assim reduzo a minha fatura para metade."

Avelino tem 66 anos, já está reformado e ficou conhecido como "Le Che" entre os apelidados "coletes amarelos", um movimento ao qual se juntou em 2018 para contestar a perda de poder de compra.

"Hoje em dia tornámo-nos pobres. Tenho 1200 euros por mês e pago atualmente 600 euros por uma casa de 58 metros quadrados. Há cinco ou seis anos que não tenho aquecimento. Revoltei-me para tentar mudar isto", explicou-nos Avelino.

Mas será que o poder de compra dos franceses baixou mesmo? Foi isso que perguntámos ao economista Philippe Dessertine.

"De um ponto de vista estatístico, podemos dizer que o poder de compra dos franceses aumentou nos últimos cinco anos. No entanto, há já algumas semanas ou mesmo meses estamos numa situação totalmente extraordinária. Completamente diferente da tendência que conhecemos durante vários anos, isto é, um grande agravamento da inflação, completamente percetível pelas famílias", sublinha Philippe Dessertine.

Os preços da energia aumentaram cerca de 20% só nó último ano. Agora com as sanções à Rússia, um dos principais fornecedores de gás e petróleo da Europa, essa despesa deverá agravar-se ainda mais na carteira dos franceses.

Um motorista que questionámos numa bomba de gasolina explicou-nos que "habitualmente pagava 80 euros" para encher o depósito. "Agora pago 140 euros", lamentou.

Um agravamento que pode vir a ser fatal para algumas transportadoras, como alerta a diretora da empresa "Transport Michaud".

"Estamos muito preocupados com o futuro do setor. Alguns transportadores não vão conseguir sobreviver. Hoje, pagamos o gasóleo a mais de dois euros o litro, para veículos que consomem cerca de 31 litros a cada 100 quilómetros. É fazer as contas", afirmou Séverine Michaud, que é também presidente da Federação dos Transportes Rodoviários da região de Auvergne Rhêne Alpes, à qual pertence Lyon.

Nas últimas semanas, o governo francês introduziu uma redução de 18 cêntimos por litro de combustível e um 'voucher' de 100 euros para energia distribuído por quase seis milhões de famílias. Resta saber o impacto que destas ajudas junto dos eleitores vão ter este domingo nas urnas.

As sondagens colocam o atual Presidente, Emmanuel Macron, como favorito, mas sem conseguir a reeleição logo à primeira. A quase certa segunda volta está marcada para 24 de abril e, pelas estimativas, deverá voltar a juntar Marine Le Pen, a carismática líder da extrema direita francesa, a Macron no boletim decisivo.

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