Ano mais seco desde 1931 está a prejudicar produção de cereais em Portugal

A aldeia submersa de Aceredo em Espanha voltou a reaparecer devido à seca
A aldeia submersa de Aceredo em Espanha voltou a reaparecer devido à seca Direitos de autor AP Photo/Emilio Morenatti
De  Francisco Marques
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Governo junta mais 28 medidas às 50 já conhecidas de combate à falta de água. Agricultores fazem contas para pagar faturas e sobreviver

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Portugal atravessa o ano mais seco desde 1931. A produção agrícola está de novo a ser prejudicada pela falta de água e o governo reforçou o plano de mitigação dos danos perante uma previsão do INE de quebras entre 10% e 15% na produção nacional de outono-inverno.

A quebra na produção de cereais em Portugal pode sofrer uma queda global de 50% este ano e isto quando o setor a nível europeu se encontra já sob stresse também devido à invasão russa da Ucrânia, os dois países responsáveis pela maior parte da importação europeia de cereais e não só.

Canadá, Brasil e Polónia estão a ocupar o lugar da Ucrânia no fornecimento de milho, cereal que provinha em 41% da produção ucraniana

Para tentar amenizar os efeitos da seca, agravados ainda pelo aumento dos custos de combustível na produção, o governo português acrescentou 28 medidas às 50 já anunciadas em fevereiro, sublinhando o apelo a um uso mais eficiente e consciente da água disponível.

Nós temos de nos habituar a viver com menos água. Isto é válido para todos os portugueses em todo o território nacional, independentemente das zonas de maior incidência de seca.
Duarte Cordeiro
Ministro do Ambiente e da Ação Climática de Portugal

O ministro do Ambiente garante estar em estreita articulação com Espanha, também a debater-se contra uma seca extrema. Os dois países devem voltar a reunir-se ainda este mês para aprofundar a discussão de soluções para a falta de água.

A maior preocupação em Portugal reside no entanto em quem tem de pagar contas com o que produz e está a ver esse rendimento a cair bruscamente devido à escassez de água: os agricultores.

José Maria Falcões, do Agrupamento de Produtores de Cereais CERSUL, fala de "um ano catastrófico para várias coisas", mas "principalmente para os cereais".

"Em pleno período de floração e de formação do grão tivemos o mês de maio mais quente dos últimos 100 anos", destacou, em declarações à RTP, o membro da direção da CERSUL.

Produtor de cereais, Francisco Peste não vê qualidade na produção deste ano para conseguir retirar grande rendimento. Ainda assim não prevê qualquer lucro. "Talvez não se perca dinheiro, mas ganhar?... Não", afirmou o agricultor.

Para o Algarve, estão previstos 200 milhões de euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) para projetos de reutilização de águas residuais e dessalinização. O Alentejo prepara um plano similar.

O governo assegura que o plano de rega para este ano está garantido e que o país tem água para consumo humano pelo menos para dois anos.

A norte, a Associação dos Agricultores e Pastores da região (APT) alerta para "uma situação gritante" devido à falta de  água.

"Em fevereiro estávamos com uma seca meteorológica, mas atualmente estamos numa seca hidrológica porque há muita falta de água nos solos", afirmou João Morais.

O diretor da APT adiantou ainda à Lusa que a escassez de água está a impactar tanto as culturas de inverno, como o caso dos fenos que não se desenvolveram o suficiente, como as culturas de primavera e verão, dando o exemplo de alguns agricultores na zona de Boticas, no distrito de Vila Real, que apostaram na produção de milho face ao embargo dos cereais provenientes da Ucrânia, mas que o mesmo está "com fraco desenvolvimento".

"Estamos a chegar a um ponto em que a chuva faria milagres", considerou, destacando que da parte do Governo "chegam promessas" para combater os efeitos da seca, "prometem-se milhões", mas que ainda nada chegou "ao bolso dos agricultores", lamenta João Morais.

O problema é que o planeta é cruel perante as alterações climáticas.

A chuva é cada vez mais escassa em zonas onde caía habitualmente durante no outono e no inverno. Agora, cai cada vez menos e quando chove é muitas vezes em enxurradas arrasadoras para os campos entretanto desidratados, provocando inundações.

Outras fontes • RTP, Expresso

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