Espanha atravessa uma seca profunda e responde aos apelos dos seus agricultores, Portugal tranquilo devido ao caudal atual dos principais rios
De Espanha nem bom vento, nem mais uma gota de água. Madrid suspendeu a transferência de água para o caudal do rio Douro e não irá cumprir as cotas estabelecidas na Convenção de Albufeira.
A julgar pela paisagem espanhola, é fácil perceber a decisão. Para Virginia Barcones, Delegada do Governo espanhol em Castela e Leão, "dado o momento em que nos encontramos, chegámos de mútuo acordo a esta situação em que já não vai fluir mais água para Portugal na presente campanha de rega".
A decisão, anunciada como de mútuo acordo, apanhou alguns de surpresa do lado português mas nem por isso gerou preocupação. Os principais rios seguem com um caudal normal para a época.
Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, acredita que este corte de água não vai ter qualquer impacto na região do Douro, uma vez que o rio tem um caudal enorme e a água utilizada para a agricultura é insignificante.
Apesar do caudal abundante que se verifica atualmente, nem sempre é assim e de qualquer modo, só uma pequena parte da água é retida no país para tempos mais difíceis.
David Boyd é o Relator da ONU para o meio ambiente, e sublinha que Portugal precisa de se modernizar:
"A agricultura é setor que utiliza mais água em Portugal, por isso precisamos de culturas que não exijam tanta água e irrigação de alta tecnologia."
Uma visão que não é partilhada pela Confederação dos Agricultores de Portugal. Luís Mira admite que o país atravessou uma situação complicada, mas sublinha que não foi a agricultura a deixar as barragens vazias:
"O que esvaziou as barragens a norte do país foi a turbinação que se fez para a produção de energia elétrica. Portugal desmantelou duas centrais elétricas a carvão, numa altura em que houve uma crise energética na Europa."
Para Luís Mira, Portugal tem tudo o que é preciso para resolver o crónico problema da falta de água e não pode estar dependente de Espanha nem culpar o país vizinho. Basta haver vontade política para implementar os projetos que já existem.