O Campeonato do Mundo de Futebol acessível para adeptos com deficiência visual e robôs de cozinha com inteligência artificial são alguns dos exemplos dados pelo país anfitrião do evento internacional para mostrar como o futuro também se joga no Qatar.
Em pleno Parque de Ciência e Tecnologia do Qatar (QTSP), dois estudantes de engenharia decidiram quebrar barreiras entre a comunidade com deficiências visuais e a sociedade. Depois de muitos testes e ensaios, criaram "Bonocle", uma plataforma de entretenimento em braille, cuja origem remonta a um acaso, quando Abdelrazak Aly, um dos fundadores, partiu a mão num acidente de carro e procurou ajuda no Centro de Necessidades Especiais da escola.
"Foi aí que tive de interagir mais com a comunidade cega. Fiquei curioso, como é que eles usam a tecnologia? Como é que têm acesso aos materiais de estudo? Passei por lutas às que eles passam todos os dias, desde o acesso ao conteúdo até à luta para conseguir que alguns voluntários o escrevam num formato acessível, antes mesmo de começarem a estudar", conta
Bonocle é um pequeno dispositivo de mão, concebido com uma "célula braille", três botões e diferentes partes táteis, que ajuda pessoas com deficiência visual a ler, escrever, contar, tirar medidas ou mesmo a jogar.
Trazer o Braille para o século XXI
A equipa criativa por trás do Bonocle diz que o dispositivo nasceu de uma necessidade de modernizar a tecnologia braille, que era ou muito cara, ou volumosa, ou pouco fiável, contribuindo para um aumento do fosso entre a comunidade de cegos e a restante sociedade.
Durante a sua recuperação, Aly e o seu colega Ramy Soliman ficaram chocados com a divisão existente em pleno século XXI.
"Era sempre um choque para nós que ver os deficientes visuais a serem segregados. Tinham as suas escolas, instituições separadas e até os locais de trabalho eram à parte dos do resto da comunidade", diz o cofundador Ramy Soliman.
Ambos esperam que o seu novo dispositivo possa ajudar a integrar pessoas com diferentes níveis de deficiência visual na sociedade, escolas, locais de trabalho ou mesmo centros de jogos.
O Qatar e o Empreendedorismo
A fim de fomentar e promover a inovação, o Qatar abriu o Parque de Ciência e Tecnologia do Qatar, um centro para start-ups e empreendimentos tecnológicos.
Hayfa al Abdulla, diretora de inovação desta plataforma empresarial frisa a importância de construir uma comunidade antes de se avançar num negócio.
"É mais importante trazer as pessoas certas e fazer as ligações certas que as start-ups precisam, quer seja ligá-las aos investidores, aos mentores certos, ou mesmo às oportunidades de mercado lá fora", explica.
O QTSP apoia empresários em várias fases, começando pelo cultivo de ideias, sem esquecer o ensino e apoio às start-ups para a construção dos seus modelos de negócio até ao financiamento, mentoria e incubação.
Enquanto profissional na área da inovação, Hayfa Al Abdulla acredita que a chave para se ser um empresário de sucesso reside em se concentrar na construção da equipa certa para desenvolver uma ideia.
Edutainment: quando entretenimento e educação se encontram surge inovação
O QSTP é também o cenário do programa de entretenimento educativo da Fundação Qatar "Stars of Science", um concurso de 12 semanas de onde inventores árabes procuram sair vencedores.
Khalid Aboujassoum foi para casa com o troféu da edição de 2012.
A vitória foi alcançada com um robô de cozinha com recurso a inteligência artificial chamado Oliver.
"Em 2012, 2011, estávamos apenas a começar e a instalarmo-nos. Na altura, havia apenas um centro de incubação digital em todo o país. Portanto, definitivamente, o ecossistema cresceu. Eu estava a pensar em construir uma empresa global e isto é um desafio global. É uma necessidade global que temos de enfrentar quando se trata de ter alimentos de alta qualidade acessíveis através da tecnologia e da robótica".
Khalid está atualmente numa missão de levar a sua ideia ao maior número de cozinhas possível. Isto inclui não só casas individuais mas também ambientes comerciais. O objetivo é instalar cozinhas automatizadas para restaurantes, catering e até mesmo plataformas e barcos.
Majed Lababidi competiu na terceira temporada de "Stars of Science", em que desenvolveu um dispositivo que fornece WiFi gratuito. Depois do programa, envolveu-se no desenvolvimento do Droobi Health, uma aplicação móvel especializada na prevenção e gestão da saúde.
Hoje, dirige a Rawi Al Kotob, uma empresa fornecedora de conteúdos áudio árabe e revela que "o mais difícil de ser empresário é manter os níveis de entusiasmo elevados, porque um dia é espantoso, no dia seguinte é como se bombas estivessem a cair do céu".
"Nunca vai ser estável", garante, "por isso, há que manter sempre a disciplina".
Mais de uma década depois de aparecer no programa, Majed transmite agora dos ensinamentos que trouxe consigo aos novos concorrentes.