Pensa-se que seis milhões de angolanos tenham sido escravizados. Isso levou a que os seus descendentes estejam hoje espalhados pelo mundo e tenham contribuído para o desenvolvimento de vários países. Programa em parceria com o Governo de Angola.
Milhões de angolanos, durante séculos, foram escravizados e enviados para as Américas a partir das costas africanas.
À procura desse rasto está Afonso Vita, doutorado em geografia humana pela Universidade de Coimbra. Encontrámo-lo em Lisboa, um ponto de passagem para muitos escravos angolanos.
"Angola é um dos países africanos que mais homens, mulheres e crianças perderam, enquanto durou o tráfico negreiro. Temos muitos locais onde ainda encontramos vestígios do tráfico transatlântico", diz.
O negócio da escravatura floresceu em Angola e Portugal. No caminho para o local de onde partiam os navios, está um marco importante: o pelourinho.
"O pelourinho é um espaço onde eram colocados os escravos, onde eram maltratados e vendidos, e onde eram castigados os escravos que se comportavam mal, na visão do colono", explica.
Países de todo o mundo beneficiaram da mão-de-obra escrava: "Os africanos construíram a Europa, construíram a América, até à Ásia também chegaram e influenciaram mudanças que ate hoje registam-se a nível mundial".
Esse elo global é uma oportunidade para o turismo e para a lembrança no Museu da História e Cultura Afro-americana em Washington.
Em 2021, o presidente de Angola, João Lourenço, esteve nos Estados Unidos da América, onde teve o privilégio de convidar a família Tucker, uma das famílias descendentes de escravos angolanos.
O Presidente Lourenço teve direito a uma visita guiada do museu por parte de uma descendente de escravos angolanos.
A ligação entre os angolanos e os norte-americanos descendentes de escravos leva-nos até Massangano, no rio Kwanza.
Emmanuel Caboco, vice-diretor do Instituto Nacional de Património Cultural, diz-nos: "O rio Kwanza foi o eixo principal da penetração colonial portuguesa pelo interior. Foi também o principal ponto de evacuação de mão-de-obra escrava. Estima-se que tenham saído mais de 6 milhões de pessoas para várias geografias".
Pedido de integração no Património da UNESCO
Angola quer o corredor do Kwanza na lista do Património Mundial da UNESCO, o que dá direito a fundos das Nações Unidas.
Na UNESCO, em Paris, Doudou Diéne, antigo alto funcionário desta instituição, diz que esta inscrição é importante para restaurar a memória e os laços culturais.
"Ligar África ao outro lado do hemisfério significa ligar as culturas. O sistema colonial foi um sistema poderoso, não de domínio político, mas de apagamento das memórias, culturas e identidades. A memória, a cultura e a identidade têm de fazer parte da construção das nações e de todos os países africanos", diz.
Por isso, está a ser planeado um festival: "O Festival Bianual de Encontro e Reencontro de Africanidade em Angola durará dois dias e nele vai-se discutir sobre vários assuntos em volta da escravatura", explica Afonso Vita.