Ainda longe de terminar a sua construção, a cidade de Nusantara foi inaugurada e palco das cerimónias oficiais do dia da proclamação da independência da Indonésia sobre o Império Colonial da Holanda, em 17 de agosto de 1945, que deu início a um conflito militar que só terminou em dezembro de 1949.
Quase no fim do seu mandato, o presidente Joko Widodo fez questão em deixar mais uma marca naquele que é um dos seus projetos mais megalómanos e controversos do país. A Indonésia comemorou o 79.º Dia da Independência no sábado com uma cerimónia em Nusantara, a futura capital inacabada destinada a aliviar a pressão sobre Jacarta que, além de estar a afundar-se devido a inundações súbitas e da remoção de águas subterrâneas para consumo, sofre de diversos problemas como poluição, congestionamentos e população elevada.
Até 2050, um terço da cidade de Jacarta poderá ficar submerso devido à extração descontrolada de águas subterrâneas e à subida do nível do mar provocada pelas alterações climáticas.
O projeto da nova capital foi lançado por Widodo, em 2019, que foi responsável pela construção de muitas infraestruturas necessárias para o país ao longo da última década. No entanto, a construção da nova capital é ambiciosa e já está atrasada relativamente ao calendário previsto.
Centenas de funcionários e convidados reuniram-se, rodeados de edifícios governamentais ainda por acabar e da visão de gruas no coração de Nusantara, para assistirem à cerimónia de inauguração, coincidente com as celebrações da independência do país sobre a Holanda.
O presidente Joko Widodo e o seu gabinete assistiram à cerimónia no novo Palácio Presidencial, que tem a forma de Garuda, o protetor mítico com asas de águia e que também é o símbolo da companhia aérea nacional Garuda Indonésia.
Inicialmente prevista para inaugurar Nusantara como a nova capital, neste ano, a cerimónia foi reduzida devido a atrasos na construção, deixando incerto o calendário para a mudança da capital. Widodo tinha inicialmente anunciado 8.000 convidados para o evento, mas o número foi posteriormente reduzido para 1.300 devido à insuficiência das infraestruturas.
Presente na cerimónia esteve Prabowo Subianto, presidente recém-eleito e que ao longo da sua campanha prometeu dar seguimento às políticas de Widodo. O ex-ministro da Defesa, e general das forças especiais indonésias, convidou o filho de Widodo, Gibran Rakabuming Raka, para seu vice-presidente, tendo assim tirado partido da popularidade do pai Widodo na corrida eleitoral.
Localizada na ilha do Bornéu, na região de Kalimantan, a cerimónia no novo Palácio do Estado decorreu em simultâneo com uma celebração no Palácio Merdeka, em Jacarta, que contou com a presença do Vice-Presidente Ma'ruf Amin. Em julho deste ano, Widodo mudou-se para o novo palácio presidencial em Nusantara, tendo aí realizado a sua primeira reunião do Governo na passada terça-feira.
Um projeto megalómano, futurista e sustentável, mas muito criticado pelos ambientalistas
A construção de Nusantara começou em meados de 2022, abrangendo 2.600 quilómetros quadrados da selva do Bornéu. Este megaprojeto prevê uma cidade verde futurista, abundante em florestas e parques, alimentada por energia renovável e com uma gestão inteligente dos resíduos.
No entanto, o megaplano de Widodo tem sido alvo de críticas por parte de ambientalistas e de comunidades indígenas, que argumentam que prejudica profundamente o ambiente, com o corte de árvores e a ameaça de espécies em vias de extinção, como os orangotangos.
No aspeto social, o projeto ameaça as populações indígenas que serão obrigadas a deslocarem-se das suas terras.
Orçamento de 33 mil milhões de dólares
A maioria dos investidores são empresas indonésias, com o governo a contribuir apenas com 20% do orçamento de 33 mil milhões de dólares e a depender fortemente do investimento do setor privado. Espera-se o interesse por parte da China, mas, segundo a BBC, nada está concretizado até ao momento.
Para atrair investidores, Widodo introduziu recentemente incentivos para Nusantara, incluindo direitos fundiários até 190 anos e benefícios fiscais substanciais.
Com uma população de cerca de 275 milhões de habitantes, a Indonésia é a maior economia do Sudeste Asiático.
Widodo, que liderou o país durante 10 anos, deverá deixar o cargo em outubro. Consta-se que o Presidente vê a construção de Nusantara como o seu legado.