Sinwar, responsável pelos atentados de 7 de outubro, morreu num confronto com as FDI (Forças de Defesa de Israel) perto de Rafah na semana passada, criando um vazio de poder no Hamas em Gaza.
Yahya Sinwar, morto em Gaza pelas forças israelitas na semana passada, "desencadeou uma tempestade" contra Israel que acabaria por "conduzir à sua destruição", afirmou o líder interino do Hamas.
Khaled Mashal prestou homenagem ao seu antigo colega através de uma ligação vídeo durante uma cerimónia fúnebre em Istambul, na segunda-feira, e acrescentou que Israel "tentou impor um destino sombrio a Sinwar, mas Deus concedeu-lhe um legado de dignidade; ele viveu com uma coragem inabalável e morreu com honra".
Israel divulgou imagens de um homem que diz ser Sinwar, sentado numa cadeira com um braço ferido, a afastar um drone antes de as FDI (Forças de Defesa de Isarel) matarem o líder do Hamas.
No seu discurso em vídeo, Mashal afirmou que o Hamas "permanecerá leal ao seu percurso de mártires, aos seus princípios, aos seus valores e às suas estratégias de liderança e resistência", continuando a afirmar que o grupo, classificado pelo Reino Unido, pelos EUA e pela UE como uma organização terrorista, "tem suportado a jornada de resistência durante décadas".
No entanto, Mashal está atualmente apenas a assumir o cargo de chefe interino do gabinete político do Hamas fora dos territórios palestinianos. Mashal saiu após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e desde então, nunca mais viveu no país.
Sinwar, o mentor dos atentados de 7 de outubro que matou mais de 1 200 israelitas, foi o último dos vários altos responsáveis do Hamas mortos no conflito, que também já provocou a morte a mais de 40 000 palestinianos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
A sua morte deixa um vazio de poder sem sucessor óbvio no território, onde dois terços das infra-estruturas foram danificadas ou destruídas.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, também prometeu continuar a ofensiva em Gaza, afirmando que a guerra "ainda não acabou", apesar dos crescentes apelos a um cessar-fogo por parte dos aliados internacionais, incluindo os EUA, e das famílias dos reféns que permanecem em Gaza. De acordo com as autoridades israelitas, 101 reféns continuam em cativeiro, dos quais mais de 60 ainda estão vivos.
As FDI também continuaram a sua invasão terrestre do Líbano depois de terem morto o líder de longa data do Hezbollah, Hassan Nasrallah, no final de setembro, enquanto o governo israelita pondera a forma de responder a um ataque iraniano em resposta à morte de Nasrallah. De acordo com os especialistas, os responsáveis governamentais israelitas vêem nisto uma oportunidade para neutralizar completamente o Irão e os seus aliados.
Os comentários de Mashal sugerem que o Hamas também não vai desistir da luta.
Um líder experiente
Khaled Mashal está habituado a assumir posições de liderança no Hamas, tendo sido presidente do seu gabinete político por duas vezes.
Nascido em 1956 em Silwad, na Cisjordânia controlada pela Jordânia, a família de Mashal fugiu para a Jordânia e depois para o Kuwait após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. No Kuwait, aderiu ao movimento conservador da Irmandade Muçulmana ainda na escola, onde iniciou o seu percurso na política radical.
Depois de trabalhar como professor de física no Kuwait, tornou-se um dos membros fundadores do Hamas quando este foi formado em 1987, tornando-se presidente do seu Bureau Político pela primeira vez em 1996, cargo que manteve até 2017.
Um ano depois de ter assumido o cargo, quase foi morto numa tentativa de assassinato falhada pelas forças de segurança israelitas, a Mossad, que mais tarde descreveu como "um ruído forte no meu ouvido... como um estrondo, como um choque elétrico".
Durante algum tempo, Mashal foi visto como uma figura moderada no seio do Hamas, aberto a um "cessar-fogo permanente" com Israel em troca de um Estado palestiniano em Gaza e na Cisjordânia ocupada. Uma posição atualmente considerada insustentável.
Após a morte de Ismail Haniyeh numa explosão em Teerão, em julho, Mashal voltou a assumir a presidência do Bureau Político até ser sucedido por Sinwar. Após a morte de Sinwar, Mashal terá adotado uma linha política mais dura.