O antigo enviado dos EUA para o Kosovo e para a Sérvia, Richard Grenell, recentemente nomeado enviado especial de Trump para missões especiais, criticou o primeiro-ministro do Kosovo, provocando perplexidade no país, antes da votação de domingo.
A administração do presidente dos Estados Unidos Donald Trump envolveu-se subitamente no Kosovo, no momento em que o país dos Balcãs Ocidentais entra na fase final da corrida eleitoral parlamentar marcada para este domingo.
Numa altura em que o atual primeiro-ministro de centro-esquerda, Albin Kurti, está a terminar a campanha para obter uma maioria clara para um segundo mandato, as duras críticas de Washington podem minar a sua posição política no país.
Esta sexta-feira, Kurti disse à imprensa em Pristina que "as relações do Kosovo com Washington estão atualmente ao melhor nível de sempre".
Richard Grenell, ex-enviado dos EUA para a Sérvia e Kosovo na primeira administração Trump, respondeu no X, dizendo que as palavras de Kurti são "ilusórias".
"As relações nunca estiveram tão baixas. Albin Kurti foi condenado pela primeira administração Trump, pela administração Biden, pela NATO, pela UE, pela embaixada dos EUA e por Antony Blinken", afirmou.
Num post anterior no início desta semana, Grenell rotulou Kurti como um "parceiro não fiável para Washington".
Mudança de tom dos EUA "desconcertante"
Para a maioria albanesa do Kosovo, as relações com os EUA têm sido vitais desde o conflito com Belgrado no final dos anos 90, seguido de uma intervenção da NATO em 1999 e da liderança das forças militares norte-americanas que travaram a guerra contra a Sérvia de Slobodan Milošević.
Em Pristina, capital do Kosovo, é possível ver avenidas e monumentos dedicados às figuras proeminentes da administração Clinton que tomaram a iniciativa de intervir contra a Sérvia.
Estar em maus lençóis com os EUA seria uma perda política para um líder político albanês kosovar, especialmente quando as tensões étnicas com a comunidade sérvia e com a própria Sérvia estão a azedar e a crise económica está a provocar um ressentimento crescente contra o governo em exercício.
"A ofensiva diplomática da administração Trump contra o primeiro-ministro cessante é bastante preocupante para Pristina, após décadas de excelentes relações com os EUA", diz Eraldin Fazliu, editor político do canal de notícias Kohavision ou KTV.
"Grenell, que tem agora uma posição muito importante na administração Trump, tem tido uma abordagem muito agressiva com Kurti nestes dias".
"Vimos que ele interferiu nas nossas eleições, basicamente dizendo que Kurti não tem sido um bom parceiro para os EUA", acrescentou.
Sérvios esperam algo de positivo de Trump
Ao contrário de Pristina, onde a nova diplomacia de Washington para os Balcãs provocou desordem política, na parte sérvia de Mitrovica há esperanças de uma nova temporada de boas relações entre os sérvios e a administração Trump, diz Aleksandar Rapajić, de uma ONG sérvia em Mitrovica.
"Esperamos que a nova administração (dos EUA) traga um novo poder, sangue fresco neste processo e comece a encontrar algumas soluções, e não apenas a ter reuniões e discussões. Por isso, posso dizer que as expectativas da comunidade sérvia no Kosovo são muito elevadas e que isto irá melhorar a sua posição no Kosovo".
Belgrado e Pristina não conseguiram implementar os acordos de Bruxelas relativos à normalização das relações.
De acordo com estes acordos assinados em 2013, a Sérvia deve tomar medidas para reconhecer o Kosovo como um Estado independente. Em troca, Pristina deve conceder aos sérvios que vivem no Kosovo o direito de criar uma associação de municípios sérvios com um certo grau de autonomia.
O contingente norte-americano e a espinha dorsal da missão de manutenção da paz liderada pela NATO no Kosovo, a KFOR, estão baseados no Campo Bondsteel.