Setembro foi responsável por 30% dos pedidos de divórcio em Espanha este ano. O ressono é o principal fator de separação após as férias.
Em 2024, registaram-se 82.991 divórcios em Espanha, mais 8,2% do que no ano anterior, segundo dados do INE. No entanto, a distribuição temporal não é homogénea: setembro concentra três em cada 10 pedidos de divórcio do ano, o que faz dele o mês mais crítico para os casais espanhóis.
A Andaluzia, a Catalunha, a Comunidade de Madrid e a Comunidade Valenciana lideram a lista de divórcios em 2024. Ceuta, La Rioja e as Ilhas Canárias só as ultrapassam em percentagem por 1.000 habitantes. Esta subida pós-férias deve-se tanto à inércia emocional do verão como à dificuldade prática de tratar das separações durante os meses de julho e agosto.
O facto que mais surpreende os especialistas é o gatilho específico: cerca de 40% das separações que surgem após o verão apontam o ressono e a apneia não tratados como a causa do conflito. "Todos os dias recebemos testemunhos de pessoas que dormiram literalmente no sofá de um hotel, no carro ou mesmo em quartos separados enquanto viajavam em casal", afirma Leticia Juan, diretora médica do Instituto da Apneia e do Ressonar.
O "divórcio do sono" como última hipótese
Antes de uma separação definitiva, muitos casais tentam o chamado "divórcio do sono" (dormir em quartos separados para poderem descansar). Em Espanha, 40% consideraram esta opção, com Aragão a liderar a percentagem de casais que já dormem em camas separadas (14%).
A investigação revelou que quase 43% dos millennials dormem separados do seu parceiro, enquanto 29% dos inquiridos pela Academia Americana de Medicina do Sono (AASM) afirmaram dormir em camas ou quartos separados para evitar interrupções causadas pelo ressono.
O problema ultrapassa fronteiras: um estudo chileno revelou que 61% dos parceiros de pessoas que ressonam admitem que o seu sono e a sua capacidade de descanso são perturbados, o que para 39% significa também que se sentem muito zangados. Nos Estados Unidos e no Canadá, vários relatórios colocam o ressono como a terceira causa de divórcio, depois da infidelidade e dos problemas financeiros.
Solução médica em vez de legal
Sete em cada 10 pessoas (70%) que ressonam não se apercebem do impacto no seu parceiro, e é geralmente o parceiro que recorre ao especialista, por vezes com queixas que a pessoa afetada não reconhece. "A falta de sono provoca irritabilidade, discussões constantes e um enorme desgaste emocional. E se a causa for o ressono, a solução é mais simples do que parece", explica Juan.
Para objetivar o problema, basta fazer uma poligrafia respiratória, um exame que avalia a origem do ressono e o seu impacto na saúde. O relatório orienta o tratamento, desde medidas de higiene do sono até aparelhos de avanço da mandíbula. Dormir acompanhado aumenta a perturbação do sono por um fator de 1,5 em comparação com dormir separado, mas um tratamento adequado pode inverter esta situação.
O verão, longe de aliviar, agrava os sintomas: as ventoinhas e o ar condicionado irritam a mucosa nasal e faríngea, as alergias sazonais, a desidratação e o consumo de álcool agravam o ressono. Com o regresso à rotina, o mau descanso torna-se uma discussão, e, se não forem tomadas medidas, acontece o desgaste definitivo que marca as estatísticas de setembro.