No maior processo de espionagem do ano, o Tribunal Regional Superior de Dresden proferiu uma sentença: Jian G., ex-assistente do deputado federal Maximilian Krah, do partido AfD, deve cumprir quase cinco anos de prisão por atuar como agente secreto para a China.
O Tribunal Regional Superior de Dresden condenou Jian G., ex-funcionário do deputado federal Maximilian Krah, do partido AfD, a quatro anos e nove meses de prisão por espionagem a favor da China.
O tribunal considerou provado o desempenho, por parte do alemão, da atividade de agente secreto num caso que está a ser considerado como particularmente grave.
O caso Jian G.
Jian G. trabalhou durante cinco anos como assistente do então eurodeputado Maximilian Krah (AfD). Segundo a acusação, utilizou este cargo para ter acesso a informações confidenciais, reuniões e documentos internos. Depois, alegadamente, transmitia a informação ao seu superior hierárquico, a quem se referia como "irmão mais velho" em conversas telefónicas.
De acordo com o Ministério Público Federal, a colaboração de G. com os serviços chineses começou em 2002 e, mais recentemente, entre 2019 e 2024, terá compilado dossiês sobre funcionários da AfD, incluindo também informações do Parlamento Europeu. Terá também espiado dissidentes chineses.
Alguns destes dossiês continham detalhes íntimos, tal como informações sobre o dador de esperma na origem do nascimento de um dos filhos da líder da AfD, Alice Weidel. G. teria recebido essas informações diretamente do seu chefe de então, Maximilian Krah, que, de acordo com uma reportagem da revista Spiegel, teria repetidamente divulgado informações internas do partido.
G. rejeitou todas as acusações na sua declaração final. O seu advogado de defesa, Hansjörg Elbs, criticou o julgamento como sendo um “processo secreto”, uma vez que grande parte das provas era confidencial, e pediu a absolvição.
O papel de Maximilian Krah
O político da AfD Maximilian Krah, atualmente deputado do Bundestag, foi testemunha no processo. Declarou em tribunal que todos os funcionários do seu gabinete na altura - incluindo G. - tinham acesso à sua conta pessoal e, portanto, também a e-mails, compromissos e documentos.
"Detesto tudo isto", referiu Krah. O deputado delegou a tarefa de examinar e organizar documentos à sua equipa para poder concentrar-se na "política pura".
Para além do processo de espionagem em curso no Tribunal de Dresden, o próprio Krah está atualmente no centro das atenções da justiça. Em maio, o Ministério Público de Dresden abriu um inquérito contra o político da AfD. Em causa suspeitas de suborno e branqueamento de capitais relacionadas com alegados pagamentos da China.
As alegações estão também relacionadas com as atividades anteriores de Krah como eurodeputado. Em setembro, o Bundestag levantou a sua imunidade, tendo sido posteriormente revistadas a sua residência e o seu escritório.
As autoridades responsáveis pela investigação estão atualmente a analisar se existem motivos suficientes para uma acusação ou se o processo será arquivado.
O passado de G. nos serviços secretos alemães
Segundo informações divulgadas pelos meios de comunicação social ARD e SWR, G. ter-se-á oferecido uma vez como fonte ao Serviço Federal de Inteligência da Alemanha. Este recusou, mas remeteu-o para o Gabinete para a Proteção da Constituição do Estado da Saxónia. Foi aí registado como informador de 2007 a 2018. De acordo com a autoridade, foi "desativado" em 2018.
O ministro do Interior da Saxónia, Armin Schuster, sublinhou, no parlamento estadual, que a cooperação do Gabinete para a Proteção da Constituição com G. tinha sido descontinuada "muito antes de quaisquer possíveis ligações ao partido AfD".
G., atualmente membro da AfD, partido que é monitorizado pelo Gabinete para a Proteção da Constituição, encontra-se em prisão preventiva desde a sua detenção.
Coarguida recebe pena suspensa
Yaqi X., funcionária de uma empresa de logística no aeroporto de Leipzig, foi igualmente acusada de transmitir informações sobre cargas, voos e passageiros. Admitiu ter transmitido dados, mas negou ter conhecimento de planos de espionagem. O tribunal condenou-a a uma pena suspensa de um ano e nove meses.