A estreia europeia do filme egípcio "el Ott" decorreu no festival Cinémas du Sud no Institut Lumière em Lyon.
O filme egípcio “el Ott” retrata o tráfico de órgãos de crianças raptadas nas ruas do Cairo.
A estreia europeia da longa-metragem de Ibrahim El-Batout decorreu no último fim de semana, no festival Cinémas du Sud, no Institut Lumière em Lyon.
Depois do rapto da própria filha, a personagem principal decide vingar-se mas tem problemas de consciência porque não quer tornar-se num malfeitor.
Amr Waked incarna a figura do herói e é também o produtor filme. “Uma vez li uma notícia sobre a descoberta de corpos de crianças mutilados numa lixeira. Fiquei chocado ao tomar conhecimento dessa realidade”, disse o ator e produtor egípcio.
O argumento de “el Ott” inspira-se num dos mitos mais importantes do Antigo Egito, o mito de Osíris, onde um homem mata o irmão e corta-o em 14 partes. A mulher da vítima recupera os bocados e reanima o marido.
“O mito egípcio de Osíris foi a primeira narrativa sobre alguém que é cortado ao bocados de forma atroz e que se torna mais tarde o símbolo da ressurreição depois da morte”, contou o ator.
O veterano do cinema egípcio Farouk Al-Fishawy incarna o papel do mau da fita, num filme que lança um olhar crítico sobre a sociedade atual.
“O corpo é sagrado em todas as religiões, faraónica, judaica, cristã e muçulmana. Todas elas sacralizaram o corpo humano. Mas nós chegamos a um ponto em que desprezamos o corpo humano”, afirmou Amr Waked.
“Before Sowfall”, outro dos grandes destaques do festival, retrata os crimes de honra.
O argumento gira em torno de um jovem curdo iraquiano que decide matar a irmã porque ela abandonou o país de origem por amor. Uma obsessão que vai levá-lo a fazer uma longa viagem até à Europa.
Para o realizador o mais difícil foi encontrar a personagem principal. “O rapaz usou a própria roupa e os sapatos durante o filme. Eu queria que ele fosse autêntico e natural. Ele não tinha experiência em cinema, nunca tinha saído do Curdistão. Elec eram mesmo o rapaz da aldeia que eu tinha concebido no argumento”, contou Hisham Zaman.
“A vítima, neste filme, não é apenas a mulher mas também o homem e o rapaz. Podia ser uma criança europeia. Mas o destino fez com que ele vivesse numa zona geográfica onde há guerra. E esse facto afeta-o. Ele não pode ir à escola e aprende com a vida”, acrescentou o realizador norueguês de origem curda.
“Before Sowfall” venceu o prémio de melhor filme nórdico, em 2013, no festival de Göteborg.