A oratória de Händel é um dos destaques do Festival de Pentecostes em Salzburgo, dirigido por Cecilia Bartoli, que sobe ao palco no papel da sedutora.
"O triunfo do tempo e da desilusão" de Händel (1685-1759) é uma meditação sobre o tempo.
Georg Friederich Händel compôs a oratória "O triunfo do tempo e da desilusão" aos 22 anos, durante a sua primeira estadia em Itália. A obra é um dos destaques do Festival de Pentecostes, em Salzburgo, na Áustria. A direção artística do evento está a cargo da cantora lírica italiana Cecilia Bartoli.
Uma homenagem a Roma
A edição deste ano é dedicada a Roma, a cidade natal da mezzo-soprano italiana. "Queria prestar homenagem à minha cidade, Roma, a cidade eterna, e queria também homenagear um grande compositor como Händel que chegou a Roma aos 19 anos e escreveu a oratória durante essa estadia. Dá quase para ver o que ele sentiu quando chegou a Roma, uma cidade barroca, com vários estilos, a música contém toda essa energia”, disse à euronews Cecila Bartoli.
Para o maestro italiano Gianluca Capuano, nesta obra, o compositor prussiano naturalizado britânico consegue exprimir toda a riqueza e subtilidade das emoções através da música. “A linguagem musical é extremamente rica em nuances. Handel é o Shakespeare da música. Por meio da música, ele consegue expressar tudo o que queremos representar no palco", considerou o maestro Gianluca Capuano.
Uma incursão na mente humana
A obra foi composta em 1707 e é uma poderosa incursão na mente humana. "É uma lição de filosofia: entre a beleza, o prazer, a verdade e o tempo, afinal, o que é mais importante na vida?", afirmou a mezzo-soprano italiana.
As personagens alegóricas Tempo e Desilusão procuram convencer a Beleza a abandonar o Prazer em troca de valores mais duradouros. Na obra, Cecilia Bartoli personifica o prazer diabólico.
“Há uma frase que eu digo: “Il tempo sempre all'uomo e ingrato oggetto. O tempo é ingrato, quando precisamos de tempo, afinal não o temos”, sublinhou a cantora italiana.
Uma reflexão para uma época obcecada pela juventude
“É uma obra de uma extrema profundidade. Vivemos numa época, há bastante tempo, obcecada pela juventude, pelo sucesso. A peça fala-nos da necessidade, para cada um de nós, de compreender quem somos, sem ter em conta a opinião dos outros. É muito difícil fazê-lo. Penso que é o tema essencial da obra”, considerou o encenador canadiano Robert Carsen.
"Lascia la spina é uma lição de vida. É o verdadeiro _carpe diem, _a ideia de que é importante ter prazer na vida, porque, um dia, o nosso tempo chega ao fim e envelheceremos. Por isso, é importante divertir-se, com pequenas coisas, não necessariamente coisas grandes. Penso que é verdade. É um momento de graça”, afirmou a mezzo-soprano.
A obra deverá ser apresentada durante o Festival de Verão de Salzburgo, de 4 a 17 de agosto.