O ambiente aquece no Châtelet, um viveiro da cultura hip-hop em Paris, que se preparou para celebrar a chegada da dança aos Jogos Olímpicos.
Meio século depois de ter aparecido pela primeira vez nas ruas de Nova Iorque, o breakdance, ou breaking, faz a sua estreia olímpica esta sexta-feira em Paris.
Esta semana, na praça do Châtelet, enquanto se aguarda o início das provas de break, centenas de pessoas assistem a batalhas de breakdance.
"O aparecimento do breaking nos Jogos Olímpicos vai dar destaque a uma disciplina que é simultaneamente surpreendente e muito física. Há movimentos muito bonitos, mas o mais importante para mim é a criatividade", explica Bboy Diego, um dançarino que veio de La Rochelle para participar no evento.
Nascido no bairro do Bronx, em Nova Iorque, nos anos 70, o breakdance teve uma ascensão meteórica em todo o mundo. Atualmente, os melhores dançarinos do mundo competem regularmente em torneios internacionais, mas para alguns membros do movimento, a competição não representa totalmente os valores do breaking.
"O breaking nos Jogos é interessante porque é visto como um desporto, mas é, antes de mais, uma arte. Originalmente, era praticado na rua e qualquer pessoa podia participar. Para mim, os valores fundamentais são a partilha e a diversão, não a competição", explica Bgirl Vibe, uma breakdancer de 16 anos presente em Paris.
Um novo desporto olímpico
"Estou há 40 anos no hip hop, venho da cultura, mas agora represento o desporto. Desporto ou cultura, não importa. É muito bom estarmos no desporto, porque é uma boa promoção para o breaking", diz OG Samson, uma figura do hip hop que veio da Eslovénia para treinar vários atletas que participam nos Jogos Olímpicos.
Dezasseis dançarinos e dezasseis dançarinas vão competir em combates de cerca de um minuto cada, esta sexta-feira e sábado, numa arena construída na Praça da Concórdia, no coração de Paris. Dois deles ganharão as primeiras medalhas de ouro de breaking na história dos Jogos Olímpicos.
Depois do skate e do surf em Tóquio, o breaking foi escolhido pelo COI para adaptar aos Jogos as práticas desportivas contemporâneas de todo o mundo. Considerado um desporto suplementar em Paris, a disciplina não foi selecionada para Los Angeles em 2028.
Dança ou desporto?
A dança tem sido objeto de muitas investigações ao longo dos séculos, desde Darwin até aos neurocientistas que comprovaram recentemente os seus benefícios para o cérebro. Segundo os cientistas, a dança ajuda as pessoas a descobrir o seu corpo, a explorar o espaço e a criar laços sociais.
"Em todos os nossos projetos, podemos ver que é criada uma ligação entre os grupos. As pessoas não se conhecem e, de repente, há uma unidade, uma união através da dança", explica Vincent Delétang, um dos coreógrafos envolvidos na exposição "Danser".
Nesta exposição, criada para promover o evento em Paris para os Jogos, as famílias passam por vários espaços denominados "Andar", "Virar", "Saltar" e depois "Encontrar" num baile de meia em meia hora.
A exposição é mais sobre o movimento do que sobre a imagem. Não há espelhos e a tecnologia transforma os visitantes em avatares, para trabalhar o movimento e a libertação.
"A dança é, de facto, uma das primeiras formas de expressão a surgir ao mesmo tempo que o ser humano. A dança surgiu como parte das celebrações religiosas, do entretenimento e do desejo de se celebrar a si próprio. Podemos vê-lo agora mesmo nos Jogos Olímpicos, quando todos batem palmas ao mesmo tempo para apoiar um movimento desportivo, ou quando fazem uma onda no estádio", disse Delétang.
"As capacidades motoras das crianças entram em ação desde o nascimento. É quando crescemos que as inibições entram em jogo, porque é uma questão de imagem. Mas, pouco a pouco, podemos pôr isso de lado", comenta Delétang, que diz ter começado a dançar em festas de família antes de se inscrever na dança na adolescência e fazer da dança contemporânea a sua profissão.
A exposição "Danser" está patente na Cité des Sciences et de l'Industrie, em Paris, até dezembro.