A série da Netflix "Heweliusz", que já pode ser vista em Portugal, conta a história da pior tragédia marítima da Polónia, quando 56 pessoas morreram em 1993.
Na noite de 13 de janeiro de 1993, o ferry "Jan Heweliusz" zarpou do porto de Świnoujście, na Polónia, para Ystad, na Suécia, com duas horas de atraso.
As condições meteorológicas difíceis tinham sido comunicadas antes da viagem e a tripulação sabia que ia ter uma noite difícil no mar. No entanto, ninguém poderia prever que o desastre se viria a tornar na maior tragédia marítima em tempo de paz da história do país.
No total, morreram 56 pessoas, 36 passageiros e 20 membros da tripulação. Apenas nove pessoas sobreviveram.
Este acontecimento, ainda hoje envolto em mistério, tornou-se o tema da série polaca da Netflix "Heweliusz", que conta a história do desastre e reconstitui o seu percurso.
A série apresenta a história do naufrágio na perspetiva de duas personagens principais: o sobrevivente da tragédia, que se debate com a culpa, e a viúva enlutada que perdeu o marido no desastre.
A história desenrola-se na realidade da Polónia comunista, retratando um sistema jurídico tenso em que, no final, o capitão do navio se torna o único culpado - apesar de todo o incidente ser muito mais complexo.
Quando o ferry zarpou, em janeiro de 1993, já tinha 30 incidentes graves no seu historial, incluindo um naufrágio parcial pouco mais de uma década antes.
"Uma grande parte da série é dedicada a esse desastre e mostra-o, mas também uma parte ainda maior é sobre o que aconteceu depois. Conta a história das pessoas que ficaram em terra, que perderam entes queridos, e também das pessoas que sobreviveram ao desastre. Além disso, não é apenas um filme de catástrofe, mas é também um drama, simplesmente um drama social. Um drama de tribunal", diz Jan Holoubek, realizador da série, em entrevista à Euronews.
Embora se trate de uma série de ficção, os criadores dedicaram muito trabalho a refletir o mais fielmente possível a realidade dos acontecimentos.
"Kasper Bajon, que escreveu o guião, analisou dezenas de ficheiros, falou com muitas pessoas que foram afetadas pelo desastre. Por isso, há aqui uma grande dose de verdade", diz o realizador.
A produção destaca-se pela sua grandiosidade, com uma vasta gama de efeitos especiais.
"O projeto já é um dos mais difíceis e exigentes de que tenho conhecimento até agora na história da cinematografia polaca. Principalmente porque a escala do número de planos totalmente digitais, em especial os planos do Heweliusz, o ferry que navega à noite em plena tempestade, eram planos muito difíceis e nunca tinha visto um filme com mais de 60 planos totalmente digitais. Além disso, havia cerca de mil planos no total ao longo da série, que exigiam o envolvimento de vários tipos de efeitos especiais, pesados ou ligeiros, pelo que, nesse aspeto, é certamente uma série única", disse Krzysztof Hrycak, que supervisiona os efeitos especiais da série, à Euronews.
A dimensão do projeto reflete o desenvolvimento dinâmico da indústria polaca de cinema, televisão e pós-produção.
"Penso que, na Polónia, estamos a avançar numa direção muito boa, porque pelo menos nós, de produção em produção, estamos a fazer filmes ou séries com uma percentagem crescente de efeitos especiais, o que, do ponto de vista da complexidade, é muito importante para nós, mas também, em termos qualitativos, estas produções estão a ficar cada vez melhores, bem realizadas e com cada vez mais brio", diz Hrycak.
Projectos como este mostram como o cinema polaco tem hoje uma grande reserva de talentos. "Nada menos do que 95% desta série foi feita na Polónia, por mãos polacas, e parece-me que a indústria é absolutamente competitiva à escala europeia ou mundial. Não temos complexos aqui", diz o realizador.
A série já está disponível na Netflix.