Máquinas solares produzem gelo para conservar peixe em ilha de Cabo Verde

Em parceria com The European Commission
Máquinas solares produzem gelo para conservar peixe em ilha de Cabo Verde
Direitos de autor Thierry Winn/Euronews
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De  Denis Loctiereuronews
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"Esta facilidade melhorou muito a vida dos pescadores, porque, agora, quando capturam peixe, não têm de o levar imediatamente para o mercado", contou à euronews Maria Rasa, Presidente da associação de pescadores de Monte Trigo.

Na pequena localidade de Pombas, em Santo Antão, a ilha mais ocidental do arquipélago de Cabo Verde, há apenas três dúzias de pescadores, apesar de haver muitos jovens interessados na profissão. 

Para pescar no mar é preciso um barco a motor. Adirson Santos, neto de um pescador, disse à euronews que nunca teve meios para comprar uma embarcação.  O obstáculo foi ultrapassado recentemente porque os pescadores de Pombas receberam um barco adquirido pelo governo no âmbito de um acordo de parceria entre Cabo Verde e a União Europeia (UE). 

"Com este novo barco, podemos ir mais longe no mar e apanhar mais peixe. O barco pode ser partilhado entre muitos pescadores sem qualquer problema. Se alguém precisar de um barco e não tiver o seu próprio barco, pode usar esta embarcação", disse à euronews Adirson Carlos da Cruz dos Santos.

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Máquina de gelo alimentada por painéis solares na ilha de Santo Antão, em Cabo Verdeeuronews

Máquinas com painéis solares produzem gelo para conservar peixe

Graças à parceria com a União Europeia tem sido possível realizar várias ações benéficas para a população local. Por exemplo, na aldeia de Monte Trigo, situada numa parte isolada de Santo Antão, o mercado de peixe mais próximo fica a meia hora de barco. O que é um verdadeiro problema para os pescadores. Num clima quente, o peixe apodrece rapidamente. 

O método da secagem ao sol é usado desde os tempos antigos. Mas hoje, o sol de Cabo Verde passou a ser usado de outra forma. Os pescadores possuem máquinas movidas a energia solar que produzem gelo barato para conservar o peixe.

"Esta facilidade melhorou muito a vida dos pescadores, porque agora, quando capturam peixe, não têm de o levar imediatamente para o mercado. Podem armazenar as capturas durante dois ou três dias e depois fazem uma só viagem para vender todo o peixe, o que permite grandes economias de combustível", afirmou Maria Rasa, Presidente da Associação de Pescadores de Monte Trigo.

Barcos europeus podem pescar peixe excendentário em Cabo Verde

No âmbito do acordo europeu, Cabo Verde permite aos navios europeus pescar as unidades populacionais excedentárias na sua zona económica exclusiva. Em troca, a União Europeia paga ao país 750 mil euros por ano. A maioria dos fundos destina-se a apoiar o sector pesqueiro local e a criar empregos. Quando as capturas provenientes de um navio espanhol chegam no porto de Mindelo são processadas numa fábrica local. A empresa é europeia mas quase todos os trabalhadores são locais e 70% são mulheres.

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Paulo Veiga, antigo ministro do mar de Cabo Verdeeuronews

O impacto dos acordos de pesca no emprego em Cabo Verde

"Em Cabo Verde, processamos atum e outros produtos do mar. São 2000 empregos directos. Somos o maior exportador do país, e o peixe representa mais de 90 por cento de todas as exportações cabo-verdianas", sublinhou Alejandro Pazo, director de operações de África da empresa Atunlo.

O antigo ministro do mar de Cabo Verde, Paulo Veiga, reconhece os benefícios do acordo com a União Europeia que permite a 69 embarcações de Espanha, Portugal e França pescar em águas cabo-verdianas.

"É uma situação em que todos ganham. Da União Europeia recebemos não só um apoio financeiro, mas também know-how e novas tecnologias. Por outro lado eles podem explorar de forma sustentável os nossos recursos pesqueiros", frisou Paulo Veiga, ex-ministro do mar de Cabo Verde.

Há mais de 13 Acordos de Parceria de Pesca Sustentável

Este tipo de acordo não se destina exclusivamente a Cabo Verde. Os chamados Acordos de Parceria de Pesca Sustentável restringem as áreas de pesca em função de critérios científicos, para proteger o mar a longo prazo.

“Para a União Europeia estes acordos são muito importantes porque contribuem para uma boa governação dos oceanos e para a sustentabilidade das pescas na medida em que todos os parceiros ficam a saber exatamente que espécies podem ser pescadas e em que quantidade. E há também uma componente de monitorização e fiscalização das pescas que ajuda também a combater a pesca ilegal”, disse à euronews Carla Grijó, Embaixadora da UE em Cabo Verde.

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Carla Grijó, Embaixadora da União Europeia em Cabo Verdeeuronews

UE apoia combate à pesca ilegal na Costa do Marfim

Na Costa do Marfim, na região da África Ocidental, a pesca ilegal é um problema profundamente enraizado. Maxime Diomandé chefia a equipa do centro de monitorização da pesca em Abidjan, financiado no âmbito de um acordo com a União Europeia. Com base em tecnologias de satélite, a equipa monitoriza os navios da Costa do Marfim em tempo real e comunica os comportamentos suspeitos aos inspectores.

"Temos todos os elementos que nos permitem interpretar a atividade de pesca de um navio com base na velocidade, no rumo e nas coordenadas geográficas da sua zona de pesca”, disse Maxime Diomandé, Chefe do Centro de Monitorização das Pescas, Direcção da Aquacultura e Pescas da Costa do Marfim.

Segundo o coordenador local do programa, os esforços para combater a pesca ilegal na Costa do Marfim estão a produzir resultados. A dimensão do problema parece ter diminuído de forma significativa porque que as infracções passaram a ser sancionadas com multas.

"Este acordo é muito benéfico para a Costa do Marfim. O Centro de Monitorização das Pescas permite-nos monitorizar as águas e, além disso, temos uma parceria com a Marinha que nos permite fazer missões de patrulha na nossa zona económica exclusiva. Estamos a conseguir impedir que os navios piratas destruam os recursos pesqueiros", disse Jacques Allou Aka, coordenador do Programa de Apoio à Gestão Sustentável dos Recursos Piscatórios, na Costa do Marfim.

As exigências dos consumidores

Outro elemento importante para a União Europeia é o facto de a maior parte do peixe que chega ao porto de Abidjan acabar no prato dos consumidores europeus, que estão cada vez mais conscientes do impacto da pesca no ambiente e na saúde e das condições de trabalho do setor.

"Hoje, os consumidores europeus querem conhecer a origem dos produtos que consomem. Querem saber se o trabalho de quem produz alimentos ou pesca peixe provoca sofrimento, querem garantias de que esses produtos não contribuem para a deterioração da natureza. É esse o contexto do trabalho da União Europeia. Queremos alcançar a sustentabilidade em todas as cadeias de valor, satisfazer simultaneamente a procura dos consumidores e contribuir para salvar o nosso planeta", frisou Jobst von Kirchmann, Embaixador da UE na Costa do Marfim.

Os Acordos de Parceria de Pesca Sustentável propostos pela União Europeia integram mais de 13 países do Atlântico, do Índico e do Pacífico.

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