Com uma pesada pegada de carbono , o porto de Antuérpia-Bruges quer reinventar-se e tornar-se no mais sustentável do mundo, testando várias fontes de "energia verde" e novas tecnologias
Os portos são o coração do comércio global, interligando o mundo e alimentando o crescimento económico. Mas esse poder tem um problema: os portos têm uma enorme pegada de carbono.
Mesmo antes da fusão com o porto de Antuérpia, o de Bruges, na Bélgica, detinha já o título de principal porto de transição de automóveis do mundo. Os grandes navios que atracam aqui geram electricidade queimando combustível.
Mas, num futuro próximo, esses navios poderão ligar-se à energia limpa de numerosas novas turbinas eólicas: uma solução mais sustentável, perfeita para a zona com mais vento da Bélgica.
Objetivo: porto sustentável e neutro em carbono
O porto unificado de Antuérpia e Bruges - um dos maiores da Europa - tem a ambição de se tornar num dos portos mais sustentáveis do mundo.
O Euroterminal de Antuérpia mudou para luzes LED, cobriu telhados com painéis solares, e lava contentores e carros com água das chuvas, tudo isto para além de estar a recorrer a energia eólica.
Como o vento em Antuérpia não é muito consistente e o sol nem sempre brilha, o terminal recorre a um novo sistema de baterias de armazenamento - uma parte do projecto PIONEERS apoiado pela União Europeia.
O diretor executivo do Euroterminal, Yves De Larivière, explica que atualmente obtêm 86% da energia de fontes verdes, resultando em custos operacionais mais previsíveis.
"Vemos imediatamente os efeitos da utilização de energia renovável, porque os preços da eletricidade subiram em flecha no ano passado. Estamos a beneficiar imediatamente de todos os esforços que fazemos. Os nossos clientes estão a pedir para mostrar a nossa pegada ecológica. Por isso, mesmo se hoje não é razão para um negócio, sê-lo-á amanhã. Penso e espero que estejamos prontos", afirmou Yves De Larivière.
O porto de Antuérpia-Bruges representa 4,5% do PIB belga e proporciona mais de 160.000 empregos através dos terminais de carga, dos centros de distribuição e do maior pólo da indústria química da Europa.
As suas emissões de CO2 elevam-se a 17 milhões de toneladas por ano, um desafio que o porto pretende enfrentar, visando a neutralidade carbónica até 2050.
Aposta nas tecnologias e fontes de energia renováveis
Uma das formas de alcançar o objectivo é através da captura, armazenamento e reutilização do CO2 da indústria.
Outra solução possível é passar dos combustíveis fósseis para alternativas como o hidrogénio, que pode ser produzido com fontes de energia renováveis.
No futuro, o porto ambiciona tornar-se numa plataforma internacional de "hidrogénio verde", que possa substituir as fontes de energia fóssil em muitas aplicações industriais.
O terminal de contentores PSA já está a testar combustíveis alternativos, como o hidrogénio. Os contentores são movidos por mais de uma centena de veículos de transporte e os motores a diesel produzem um volume substancial de emissões.
Integrado no projecto PIONEERS, o terminal, em parceria com a CMB.TECH, está a testar um dos veículos com um sistema híbrido que combina diesel e hidrogénio, reduzindo as emissões globais.
A experiência servirá para ver como ampliar a tecnologia.
Coordenado no Porto de Antuérpia-Bruges, o projecto PIONEERS envolve também os portos de Barcelona, em Espanha, Constança, na Roménia, e Venlo, no sul dos Países Baixos.
O objectivo é demonstrar diferentes estratégias que os portos podem usar para diminuir o impacto ambiental, mantendo-se competitivos, respeitando os objectivos do Acordo Verde Europeu.
Inge De Wolf é a coordenadora do projecto PIONEERS:
"Cada porto oferece um ecossistema portuário único, onde podemos aprender uns com os outros, também através da interação com a comunidade portuária, os vários intervenientes.
Vamos concentrar-nos, por exemplo, na produção e fornecimento de energia limpa, na conceção sustentável de portos. Vamos prestar atenção aos fluxos, à otimização dos fluxos de transferência tanto de mercadorias como passageiros, e também à transformação digital.
Assim, no fim do projeto, temos a ambição de entregar um plano diretor dos 'portos verdes', que possa ser usado em portos por toda a Europa e não só."
As tecnologias digitais podem aumentar a eficiência dos portos, levando a uma redução da poluição e dos resíduos.
Os dados em tempo real são disponibilizados por câmaras, sensores de qualidade do ar e outros dispositivos posicionados ao longo do porto.
Drones semiautónomos usam algoritmos de aprendizagem para rastrear a área e detetar lixo a flutuar ou derrames de petróleo.
A autoridade portuária pode responder rapidamente a qualquer fonte de poluição atmosférica, seja de uma instalação industrial ou de um navio.
Mesmo os navios estão a ser digitalizados. A Seafar, outra participante no projeto, equipa as embarcações com câmaras e outros sensores para que possam ser controladas à distância.
Os "capitães" dirigem as embarcações através de ecrãs, num escritório. Uma forma mais confortável de trabalhar que também oferece benefícios ambientais, como explica a gestora de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento da Seafar, Ghazaleh Kia:
"Quando temos toda a informação recolhida, todos os dados recolhidos dos dispositivos, uma coisa que podemos providenciar é a otimização da rota e da velocidade.
Quando temos estas opções disponíveis, temos uma redução do consumo de combustível, e como resultado, uma menor pegada de carbono e uma carga mais 'verde'."
Atenção à mobilidade
A forma como as pessoas se deslocam nos portos também pode ter um grande impacto nas emissões.
Desde camiões pesados e comboios de carga aos carros pessoais dos empregados, todos contribuem para a poluição global que afecta todos os que vivem nas cidades portuárias.
O objectivo de Antuérpia é que pelo menos metade dos habitantes utilizem meios de transporte sustentáveis.
A cidade está a trabalhar com a autoridade portuária, que investiu 40 milhões de euros para ligar todas as empresas da zona portuária a ciclovias seguras e confortáveis.
É apenas o início da viagem da indústria em direcção aos portos mais ecológicos do futuro, forjando um caminho para reduzir as emissões, mantendo uma economia próspera.
Com a Europa a apontar para a neutralidade climática até 2050, o objectivo final é claro.