2 mil rinocerontes brancos em cativeiro vão ser libertados num projeto de renaturalização de dez anos em África.
A organização não-governamental (ONG) sul-africana African Parks adquiriu a maior operação de criação de rinocerontes em cativeiro do mundo. Planeia agora proteger os animais em todo o continente.
A organização interveio depois de um leilão online dos 2 mil rinocerontes do criador John Hume não ter recebido qualquer oferta.
Ao longo dos próximos dez anos, a organização de conservação tenciona transferir os animais para áreas protegidas em todo o continente para ajudar a garantir o futuro da espécie.
Porque é que 2 mil rinocerontes brancos foram vendidos num leilão online?
O antigo bilionário John Hume investiu a sua fortuna na construção da maior herdade de rinocerontes do mundo, em 2009.
Localizada em Klerksdorp, 170 quilómetros a sudeste de Joanesburgo, a herdade altamente vigiada custava mais de 425 mil dólares (396 mil euros) por mês, de acordo com os documentos do leilão.
Uma grande parte desse valor destinava-se à segurança e os custos aumentaram nos últimos anos devido a uma seca prolongada que fez subir o preço da alimentação dos animais.
Para dissuadir ainda mais os caçadores furtivos, cortaram-se os chifres dos rinocerontes da herdade de Hume. O procedimento não magoa os rinocerontes, mas pode alterar o seu comportamento e ter consequências a longo prazo. Se forem cortados corretamente, os chifres podem voltar a crescer com o tempo.
Em 2017, o polémico empresário ganhou uma batalha legal para levantar a proibição de 2009 do comércio interno de chifres de rinoceronte na África do Sul, apesar da proibição internacional. O objetivo era financiar o seu projeto de conservação e, alegadamente, reduzir o valor dos chifres no mercado ilegal.
Em 2016, a CNN informou que a herdade tinha quase dez toneladas de chifres no valor de quase 500 milhões de euros. Em 2015, o valor dos chifres de rinoceronte ultrapassou o do ouro e o da cocaína.
Em abril, incapaz de continuar a gerir a herdade de 7800 hectares, Hume colocou-a em leilão online.
O preço pago pela African Parks não foi revelado, mas o leilão, que terminou em maio, foi aberto a licitações a partir de 10 milhões de dólares (9,3 milhões de euros).
O que é que a African Parks vai fazer com os rinocerontes?
A African Parks é uma ONG de conservação. Gere 22 parques nacionais em 12 países africanos, em parceria com os governos e as comunidades locais.
Com o apoio do governo sul-africano, planeia recuperar os 2 mil rinocerontes-brancos do sul, que representarão cerca de 15% da população selvagem ainda existente no mundo.
A ONG afirma ter experiência na gestão de áreas protegidas e na translocação de animais selvagens em grande número, incluindo o regresso de rinocerontes ao Ruanda, ao Malawi e à República Democrática do Congo.
A ONG assegurou um financiamento de emergência para adquirir os rinocerontes e protegê-los da potencial caça furtiva e fragmentação.
Nos próximos dez anos, planeia recolocar os rinocerontes em áreas bem geridas e seguras, estabelecendo ou complementando populações estratégicas para garantir o futuro da espécie.
"A escala deste empreendimento é simplesmente enorme e, por isso, assustadora", afirma Peter Fearnhead, Diretor Executivo da African Parks. "No entanto, é igualmente uma das oportunidades de conservação mais excitantes e globalmente estratégicas."
Será um dos maiores projetos de renaturalização (rewilding) a nível continental a ocorrer para qualquer espécie.
Que ameaças enfrentam os rinocerontes na África do Sul?
Depois de terem sido caçados até à quase extinção no final do século XIX, os rinocerontes-brancos do sul tornaram-se uma história de sucesso em matéria de conservação.
A sua população cresceu de menos de 40 animais na década de 1930 para cerca de 13 mil atualmente, graças a programas de proteção e reprodução. No entanto, esse número diminuiu de 20 mil em 2012 devido à caça furtiva.
De acordo com o World Wide Fund for Nature, os rinocerontes são regularmente caçados por causa dos chifres, que são utilizados na medicina tradicional para tratar uma série de doenças, desde a redução de febres até à interrupção de hemorragias nasais e à prevenção de acidentes vasculares cerebrais.
Em 2022, foram mortos 448 rinocerontes na África do Sul, segundo a organização de conservação Save the Rhino.
Os rinocerontes-brancos do sul estão agora listados como quase ameaçados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
O rinoceronte-branco do norte está funcionalmente extinto, com apenas duas fêmeas não reprodutoras em cativeiro no Quénia.
Mais de metade dos rinocerontes-brancos de África estão agora na posse de proprietários privados, que normalmente têm mais dinheiro para medidas de segurança.