Curiosidade pelo leme terá levado a aproximação das orcas às embarcações nos últimos cinco anos. Comunidade científica rejeita que se tratem de ataques.
Desde 2020, têm sido registadas várias interações entre orcas e embarcações na costa da Península Ibérica. O mais recente aconteceu ao largo de Vila do Conde, no norte de Portugal, quando um veleiro francês perdeu o leme após um encontro deste género.
O incidente ocorreu duas semanas após o afundamento de um outro veleiro na Costa da Caparica, a 13 de setembro, após a aproximação de um grupo de quatro orcas. Há registo de outros dois naufrágios provocados por orcas em 2022, um ao largo de Viana do Castelo e outro ao largo de Sines.
Desde o início deste fenómeno, nenhum dos incidentes com embarcações resultou em vítimas ou feridos, havendo a registar apenas danos materiais avultados.
Só este ano, a Marinha e a Autoridade Marítima Nacional têm conhecimento de quase 60 encontros entre orcas e embarcações na costa portuguesa, de acordo com dados do Instituto Hidrográfico.
"Relativamente a interações e avistamentos de orcas durante 2025, há de referir 30 avistamentos e 24 interações", especifica o Comandante João Ferraz Fernandes, da Autoridade Marítima Nacional, à Euronews.
Ataque ou brincadeira de uma espécie curiosa?
O comportamento destes animais selvagens, que podem atingir até 11 toneladas, tem gerado alguma inquietação, mas a comunidade científica acredita que o objetivo é brincar, não atacar.
"Temos de ver isto quase como aquele jogo da corda. Um puxa para um lado, outro puxa para outro. Porque o leme é efetivamente uma peça fundamental para direcionar a embarcação. E ao brincarem com o leme, estão efetivamente a mudar a direção da embarcação e parece que espoleta o interesse", explica o biólogo marinho Rui Rosa em declarações à Euronews.
O investigador e professor associado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa rejeita contudo que a curiosidade das orcas possa ser confundida com comportamentos agressivos, na medida em que se tratam de animais de grande porte. "Se efetivamente quisessem ter um comportamento agressivo, seria de outra intensidade, de outra escala", salienta.
O problema é que ao longo dos anos, mais animais foram aprendendo este comportamento, dadas as capacidades cognitivas elevadas das orcas. E o que começou inicialmente com alguns juvenis, neste momento é feito por um número muito maior de indivíduos da população.
"Estamos a falar mais ou menos de 30 a 40 indivíduos e, portanto as estimativas é que se calhar já metade deste número começa a demonstrar este tipo de interação com as embarcações", admite Rui Rosa.
O que fazer para evitar um incidente perigoso em caso de aproximação de uma orca?
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) definiu um protocolo de segurança com comportamentos a adotar em caso de aproximação das orcas a embarcações.
"Caso as condições de mar o permitam, deve imobilizar a embarcação e deixar o leme solto, ou engrenar a ré e navegar assim durante o tempo considerado necessário, sem mudanças bruscas de direção", recomenda o ICNF.
Além disso, o protocolo aconselha o contacto com as autoridades e o reporte de todos os avistamentos e interações.