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Ano do polvo: alterações climáticas empurram polvos para novas águas

Polvo-comum
Polvo-comum Direitos de autor  KIRSTY ANDREWS via The Wildlife Trusts.
Direitos de autor KIRSTY ANDREWS via The Wildlife Trusts.
De Liam Gilliver
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Detectados números inéditos de polvo comum ao largo do Reino Unido este ano, mas o que explica esta rara proliferação de polvos?

Foi avistado este ano um número "excecional" de polvo-comum ao longo da costa sul de Inglaterra, proporcionando cenas raramente observadas em águas pouco profundas.

Tido como um dos animais marinhos mais inteligentes, o esquivo cefalópode (também conhecido como o polvo-comum) encontra-se habitualmente mais a sul, nas águas mais quentes do Mediterrâneo. Já foram registadas no Reino Unido grandes concentrações, frequentemente apelidadas de "proliferação", mas o aumento deste ano foi o maior desde 1950.

Voluntários registaram um aumento de 1.500 por cento face à "mini proliferação" de 2023 e conseguiram imagens raras dos animais a "andar", a limparem-se e a acasalarem. Um chegou mesmo a ser filmado a agarrar uma câmara subaquática.

A chegada em massa levou a organização de conservação The Wildlife Trusts a declarar 2025 "o Ano do Polvo em Proliferação". Mas será mesmo um fenómeno para celebrar?

Reino Unido: por que razão os polvos estão a deslocar-se para águas britânicas?

Ruth Williams, responsável pela conservação marinha na The Wildlife Trusts, diz que a "explosão populacional" resulta provavelmente de uma combinação de diferentes fatores ambientais que coincidiram, incluindo o aquecimento das águas.

"As temperaturas do mar estão entre 1,5 e 3 ºC acima do habitual no Sudoeste e invernos mais amenos permitem que os ovos de polvo sobrevivam em maior proporção", diz à Euronews Green.

No entanto, são precisos mais estudos para compreender a proliferação com mais detalhe.

A temperatura de mares e oceanos está a subir a um ritmo acelerado, à medida que continuam a absorver o excesso de calor dos gases com efeito de estufa produzidos pelo homem.

Um estudo de 2025, publicado na revistaEnvironmental Research Letters, alertou que a superfície do oceano está a aquecer quatro vezes mais depressa do que há 40 anos, enquanto a temperatura média da superfície do mar atingiu máximos históricos.

"Se os oceanos fossem uma banheira de água, então, nos anos 80, a torneira da água quente corria devagar, a aquecer a água apenas uma fração de grau por década", diz o autor principal, o professor Chris Merchant.

"Mas agora a torneira está muito mais aberta e o aquecimento acelerou. A forma de abrandar esse aquecimento é começar a fechar a torneira, cortando as emissões globais de carbono e avançando para a neutralidade carbónica."

Reino Unido: que impacto tem a proliferação de polvos?

Embora estas proliferações sejam consideradas naturais, os números recorde deste ano causaram problemas à indústria do marisco, com alguns trabalhadores a afirmarem que as capturas caíram pelo menos 60 por cento durante o verão.

"Os polvos são predadores e alimentam-se de lagostas, caranguejos e vieiras, que também são capturados pelos pescadores", explica Williams.

"Se o número de polvos continuar a aumentar, os pescadores terão de se adaptar e ajustar a sua atividade em conformidade, e há trabalho em curso para avaliar possíveis opções."

No entanto, Williams acrescenta que o pico no número de polvos pode ser "passageiro" e que os valores poderão regressar a níveis mais normais nos próximos anos.

Reino Unido: pescar polvo é legal? Uma questão de bem-estar

A diminuição do marisco aumentou a procura para que mais restaurantes passem a incluir polvo nos seus menus e ajuda os pescadores a manterem os lucros.

Neste verão, mais de 1.200 toneladas de polvo foram capturadas por pescadores em águas britânicas.

É um aumento significativo face a anos anteriores, mas não será bem recebido por ativistas dos direitos dos animais, que há muito pedem que os polvos sejam protegidos do abate para consumo humano.

Em 2021, o governo britânico alterou a sua Lei do Bem-Estar Animal para reconhecer os polvos como seres sencientes, admitindo que sentem dor. Isto proíbe práticas como cozê-los vivos, mas não chega a impedir o seu abate.

"Estes são animais altamente inteligentes, pelo que existe uma questão de bem-estar, como acontece com muitos animais capturados ou criados para produção alimentar", acrescenta Williams.

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