Paul De Grauwe: "É preciso parar com os programas de austeridade que não funcionaram"

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Professor na Escola de Economia e Ciência Política de Londres e na Universidade de Lovaina, Paul De Grauwe, que acompanha de perto a crise grega

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Professor na Escola de Economia e Ciência Política de Londres e na Universidade de Lovaina, Paul De Grauwe, que acompanha de perto a crise grega, comentou a situação, em entrevista à Euronews.

Audrey Tilve, euronews – Se a Grécia tiver de sair da zona euro, estaremos perante uma calamidade do ponto de vista estritamente financeiro?

Paul De Grauwe, professor catedrático – Seria seguramente uma calamidade para a Grécia, mas a questão é saber se seria uma calamidade para a zona euro. A curto prazo, penso que é possível gerir a situação. Temos uma série de instrumentos que permitem eliminar o contágio que se pudesse verificar. O problema coloca-se a mais longo termo. Se a Grécia sair da União, isso significará que a União monetária não é permanente, o que quer dizer que no futuro, quando houver novos choques económicos, uma recessão, por exemplo, a querer saber-se quem é o elo fraco, qual o país que pode sair. Isso destabilizará a zona euro.

Audrey Tilve, euronews – Conhece bem os números dos países mais expostos à dívida grega. A Alemanha, 56 mil milhões de euros. França, 42 mil milhões. Itália, 37 mil milhões. Estes países têm alguma possibilidade de recuperar este dinheiro?

Paul De Grauwe, professor catedrático – Não a 100%. É preciso lembrar o facto de que já houve perdas. Os montantes que vemos são nominais. Fizeram-se reestruturações implícitas, alongou-se a maturidade da dívida, diminuiu-se fortemente a taxa de juro. Se calcularmos o valor atual de tudo o que a Grécia deve pagar no futuro, atingimos um valor que é claramente inferior aos montantes nominais que vimos. Já houve perdas, mas os Governos não se atrevem a dizê-lo aos contribuintes.

Audrey Tilve, euronews – Isso quer dizer que já se suprimiu dívida?

Paul De Grauwe – Segundo os meus cálculos, já se suprimiu cerca de 50% da dívida grega.

Audrey Tilve, euronews – De que servirá tudo isto se não se resolver o problema de fundo que fez a Grécia chegar à situação a que chegou? É a incapacidade ou a dificuldade da Grécia em recolher impostos, o não funcionamento da administração ou a corrupção, o clientelismo? Porque é que não se progrediu, volvidos cinco anos, desde que os europeus se concentraram na Grécia?

Paul De Grauwe, professor catedrático – Houve progressos em alguns domínios. É preciso referir que se diminuiu fortemente o número de funcionários, fizeram-se reformas no sistema de pensões.

Audrey Tilve, euronews – Não há registos, os armadores não pagam impostos.

Paul De Grauwe, professor catedrático – Há uma série de outras coisas a fazer. Coisas necessárias, mas o problema é que com a austeridade que se impôs à Grécia, a economia caiu no abismo.

Audrey Tilve, euronews – O que é que falta para que a Grécia se possa tornar economicamente viável?

Paul De Grauwe, professor catedrático – Antes de mais é preciso parar com os programas de austeridade que não funcionaram. O efeito que tiveram foi diminuir a capacidade da Grécia pagar a dívida, aumentar o desemprego.

Audrey Tilve, euronews – Isso bastava? Há uma indústria na Grécia? É um país que importa muitos produtos.

Paul De Grauwe, professor catedrático – A Grécia tinha taxas de crescimento no passado. Uma parte era insustentável, é verdade, mas antes a Grécia registava crescimento. Dizer que a Grécia não pode crescer não faz sentido.

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