Pesca pode "emperrar" acordo UE-Reino Unido

Barco de pesca no Canal da Mancha
Barco de pesca no Canal da Mancha Direitos de autor Gareth Fuller/PA Wire Gareth Fuller
De  Isabel Marques da SilvaElena Cavallone
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Desde os anos 70 que grande parte da indústria de pesca de países da costa atlântica depende do acesso a águas do Reino Unido e este poderá ser um dos temas de mais difícil negociação para o futuro acordo comercial e político com a União Europeia.

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Às seis horas da manhã, as embarcações de pesca já deixaram a captura do dia no porto belga de Ostende e o mercado para grossistas pode começar o leilão.

A enviada da euronews, Elena Cavallone, realça que "75% do peixe vendido no leilão de Ostende foi capturado em águas britânicas, sendo o linguado a espécie mais pescada. As águas britânicas têm maiores stocks de peixe do que os da zona marítima belga no Mar do Norte, pelo que os pescadores esperam poder continuar a trabalhar nessas águas, após o Brexit, e manter o atual nível de captura".

Com base num sistema de quotas, vários Estados-membros da União Europeia podem pescar até 60 por cento dos stocks disponíveis nas águas britânicas. A falta de acordo sobre este tema nas negociações com a União Europeia teria grande impacto.

"Vamos com frequência àquela zona e, nos portos britânicos, falamos com pescadores locais que nos acusam de apanhar demasiado peixe. Se cortarem o acesso às águas deles, de certeza que vamos perder metade das nossas receitas", afirmou Bruno Decodiar, pescador belga.

Portugal não tem quota de pesca em águas britânicas, mas beneficia do facto da Noruega ter acesso enquanto país associado do Espaço Económico Europeu. Em troca desse acesso, Portugal pesca bacalhau nas águas da Noruega. Sem acordo, todo o mercado teria de se reorganizar.

"Isso significa que toda as frotas da Dinamarca, Holanda, Bélgica, França e Irlanda teriam de deixar de pescar lá e voltar-se para a costa junto ao continente, mas não há espaço para todos. Em troca de podermos pescar no Reino Unido, esse país ganhou mais direito de vender produtos na Europa. Os britânicos quase não têm frota pesqueira e consomem muito menos peixe do que nós”, disse Jan Buisseret, gerente do mercado grossista de peixe de Ostende.

Acordo até julho?

Os britânicos pescam relativamente pouco, mas 75 por cento dessas capturas são exportadas para a União Europeia. 

Para Pierre Karleskind, presidente da comissão de Pescas do Parlamento Europeu, esta matéria é fundamental para que haja sucesso na futura parceria comercial e política e deixa um aviso ao primeiro-ministro britânico, Boris Jonhson.

“Ninguém deve esquecer que sem acordo sobre a pesca, não haverá acordo comercial global. Se eles arrastarem a discussão sobre as pescas, nós vamos arrastar a discussão sobre o acordo comercial e as empresas birtânicas vão ter grandes dificuldades em continuar a exportar para a União Europeia, o que será um grande problema", explicou Pierre Karleskind, que é um eurodeputado liberal francês.

Os negociadores por parte ds União Europeia desejam terminar o capítulo das pescas até julho, por forma a tentar fechar todo o acordo comercial até 31 de dezembro, como quer o Reino Unido.

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