Petição belga pede retirada de estátuas de Leopoldo II

Do alto do pedestal, as estátuas do rei Leopoldo II impõem-se em vários pontos da Bélgica. Só que está a ganhar força uma petição online que pede a retirada de todas estas representações de um monarca visto como o responsável pelo genocídio de mais de 10 milhões de pessoas na antiga colónia do Congo belga.
Mireille-Tsheusi Robert, da associação antirracista Bamko, salienta que "para a maioria dos belgas, Leopoldo ainda é conhecido como o 'rei que construiu o país'. Mas a Bélgica foi construída, em grande medida, com dinheiro roubado ao povo do Congo".
Organizações como a Bamko exigem também o pagamento de compensações financeiras à atual República Democrática do Congo pelas consequências de um domínio colonial que se estendeu até 1960. Para a história ficaram relatos de castigos cruéis, impostos pelas tropas de Leopoldo II à população local, que passavam frequentemente pela amputação de mãos.
Na cidade de Gent, foram inscritas num busto do rei as últimas palavras de George Floyd: "I can´t breathe" ("Não consigo respirar"). Há também ruas, paragens de transportes com o nome Leopoldo II - as referências são constantes.
Os nacionalistas flamengos, de extrema-direita, assumem o discurso de Wouter Vermeersch, do partido Vlaams Belang: "Isto faz parte da história da Bélgica. Há uma tendência antimonárquica, mas o povo não quer derrubar estátuas, mudar nomes de ruas, nem apagar a história ou o património cultural".
Em junho de 2018, uma praça em Bruxelas foi batizada com o nome do pai da independência congolesa, Patrice Lumumba.
O antigo Museu Real da África Central, que chegou a acolher uma espécie de zoo humano, reabriu portas em 2019 com o nome Museu África.
O jornalista Jack Parrock refere que "a petição para retirar as estátuas do rei Leopoldo II e para compensar a República Democrática do Congo ganhou mais incentivos com os protestos do movimento 'Black Lives Matter' nos Estados Unidos. Mas, na Bélgica, não se pede apenas um ajuste de contas com o passado: pede-se que o país olhe para o racismo institucional que existe no presente. Há já várias manifestações previstas para as próximas semanas".