Turquia "lucrou" com divisão durante cimeira da UE

Os interesses nacionais e as relações bilaterais de certos Estados-membros da União Europeia com a Turquia impediram o consenso sobre sanções mais fortes contra a aquele país, durante a cimeira de líderes, na semana passada.
França, Grécia e Chipre pediram medidas mais duras, incluindo sanções setoriais, na banca ou na energia, por exemplo, ou um embargo às exportações de armas.
Alemanha, Espanha e Itália defenderam uma linha mais branda na reação às controversas explorações de recursos na zona oriental do mar Mediterrâneo, tendo esta visão prevalecido.
"A Itália tem um papel fundamental. O foco principal da Itália é a Líbia, já que a empresa italiana ENI, de gestão pública, controla 45% da produção italiana de petróleo e gás, que é na grande maioria obtido em território líbio controlado pelo Governo de União Nacional. Esse governo é apoiado pela Itália e pela Turquia, pelo que no que toca à Líbia, a Itália esta alinhada com a Turquia", explicou o analista Michael Tanchum, do Instituto Austríaco de Estudos Europeus e de Segurança, em entrevista à euronews.
Alguns países europeus mediterrâneos também dependem de acordos com os governos turco e líbio para lidar com o contrabando de migrantes, armas e drogas levado a cabo por redes criminosas na região.
Por outro lado, os bancos espanhóis detêm muita divida pública da Turquia, realça Michael Tanchum: "A Espanha é dos países scom maior exposição à divida turca. A lira turca tem estado, constantemente, a cair. O país que mais dinheiro vai perder é a Espanha. A Espanha tem pelo menos 50 mil milhões de euros da dívida turca, o que é mais do que o que detêm a França, Alemanha, Itália e Reino Unido em conjunto".
 espera dos EUA?
O líder da bancada de centro-direita no Parlamento Europeu, Manfred Weber, está desiludido com o resultado da cimeira.
Foram apenas adicionados mais nomes de pessoas e empresas à lista dos alvos de sanções e terá de se esperar por um relatório sobre a situação geral, em março de 2021.
"O Conselho Europeu tomou uma decisão contra a Turquia, mas não é suficientemente forte. Portanto, a credibilidade da União Europeia está em jogo", disse Weber.
"É óbvio que o processo de decisão por unanimidade no Conselho Europeu bloqueia o poder de resposta da União Europeia como um todo. Isso aconteceu no caso da Turquia. Os interesses individuais bloquearam um entendimento geral de ir mais longe nas sanções, algo que também aconteceu no caso dos sansões à Bielorrússia e noutras questões", acrescentou.
A União Europeia pretende trabalhar com a nova administração dos EUA na definição de uma estratégia para lidar com a Turquia.
O cerca de um mês de deixar o cargo que passará para o democrata Joe Biden, o presidente Donald Trump acaba de aprovar sanções contra a Turquia por ter comprado mísseis russos que considera incompatíveis com a sua posição de aliado na NATO.