Afegãos procuram apoio da comunidade internacional para sair do país

Com a queda de Cabul nas mãos dos talibãs, milhares de afegãos procuram uma saída segura do país.
Akram, um cidadão belga de origem afegã, ficou repentinamente preso no Afeganistão, com a mulher e quatro filhos. As férias em família no país natal tornaram-se num pesadelo. Em entrevista à Euronews, recordou dias de angústia e de medo, antes de conseguir partir para a Bélgica.
"Foi muito perigoso. Os disparos, as multidões no aeroporto. Tudo isto fez-nos temer o pior", lembrou Akram.
Fez temer o pior pela segurança, mas não só.
Akram sublinhou que os afegãos receiam pelo bem-estar económico até porque os bancos, salários e transferências de dinheiro foram severamente afetados pelo curso dos acontecimentos.
"As pessoas estão muito dependentes da ajuda financeira enviada pela diáspora afegã em todo o mundo. Atualmente, como se sabe, empresas de envio de dinheiro como a Western Union e MoneyGram cessaram a atividade no Afeganistão. Por isso, a população local está privada dessa ajuda", acrescentou.
Milhares de afegãos continuam presos no país ou à procura de proteção internacional em outros países. São pessoas como Abdul Azim Azad, um migrante sem documentos oriundo de Cabul mas que passou a última década à procura de asilo na Bélgica. As tentativas falharam continuamente.
Ele e outros migrantes em situação idêntica esperam agora que a situação obrigue as autoridades a reconsiderar.
"A situação dá-nos alguns elementos para poder mostrar e explicar como estão as coisas. Para explicar qual é a realidade e mostrar que os afegãos precisam de ser reconhecidos pelo Estado belga, mas também por outros países europeus", referiu Abdul Azad.
As autoridades belgas em matéria de migração dizem que a ascensão de um regime talibã não garante automaticamente o sucesso de um pedido de asilo e lembram que o fim das hostilidades pode até tornar o país mais seguro.
O governo federal, por outro lado, parou, temporariamente, de deportar afegãos. Mas a situação pode mudar no futuro.
"Ninguém é enviado de volta para uma região em que existe perigo. Neste momento, o Afeganistão é perigoso. Então, está claro que ninguém é enviado de volta para o país. A situação será examinada todos os dias, todas as semanas, para saber se melhora ou não", sublinhou, em entrevista à Euronews, Sammy Mahdi, secretário de Estado belga para o Asilo e Migração.
As organizações não-governamentais que trabalham com migrações apelam aos governos europeus para protegerem os afegãos, evitando empurrá-los para um limbo.
"Este cenário leva realmente a uma situação de ilegalidade. As pessoas ficam sem autorização de residência, sem direitos. Serão convidados a sair do território, mas confrontados com a impossibilidade de sair voluntariamente e com a impossibilidade de as autoridades os expulsarem. São pessoas que estão condenadas a sobreviver na clandestinidade e na precariedade", alertou Sotieta Ngo, diretora organização não-governamental CIRé (Coordenação e Iniciativas para Refugiados e Estrangeiros).
No ano passado, mais de 400 mil afegãos pediram asilo na União Europeia. Apenas 10% obteve proteção.