13 vozes contra resolução a condenar invasão russa. Conheça os motivos

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De  Orlando Crowcroft
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A resolução, não-vinculativa, foi votada esta terça-feira no Parlamento Europeu

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Foi a partir de um ecrã que o plenário do Parlamento Europeu, reunido na terça-feira em Bruxelas, ouviu o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelenskyy fazer um apelo apaixonado e emotivo para que a Europa prove que apoia o país invadido.

Instantes antes, os eurodeputados aplaudiam a Ucrânia no hemiciclo, inundado por uma maré azul e amarelo, as cores da bandeira do país.

Do lado de fora do parlamento, ucranianos e apoiantes do país invadido, participavam de uma vigília barulhenta.

Sentado numa mesa e envergando uma t-shirt, o discurso de Zelenskyy foi tão comovente que até um tradutor do Parlamento Europeu ficou com a voz embargada. Após o debate, os eurodeputados votaram uma resolução - não vinculativa - que insta a Rússia a cessar a violência e que condena a guerra iniciada pelo Presidente russo Vladimir Putin.

Uma grande maioria - 637 eurodeputados - da extrema-esquerda à extrema-direita, da Roménia a Portugal e à Finlândia, uniu-se e votou "Sim".

No entanto Mick Wallace, eurodeputado irlandês do grupo da Esquerda no Parlamento Europeu (GUE/NGL), votou "Não".

“Grande parte da resolução é importante e necessária”, disse Wallace à Euronews.

“Condena, de forma correta, a agressão russa e pede apoio humanitário para a Ucrânia e os refugiados ucranianos. Estes são termos que apoiamos de todo o coração”, acrescentou.

Mas parte da resolução, referiu Wallace, não é importante. Apela ao reforço da presença militar avançada da NATO, a um aumento significativo nas despesas de defesa e ao reforço do pilar europeu dentro da NATO. Pede a substituição do petróleo russo pelo americano, extraído através de fracking.

“Procurámos remover esses elementos da resolução, mas a maioria no Parlamento Europeu votou a favor de os manter. Pediram-nos para votar o texto no seu conjunto, que inclui estas disposições. Opomo-nos à guerra e opomo-nos a esta resolução”.

Wallace não foi o único a opor-se à resolução, na terça-feira. Seis outros eurodeputados do grupo da Esquerda no Parlamento Europeu também votaram contra: Clare Daly, Özlem Demirel, Sandra Pereira, João Pimenta Lopes, Martin Schirdewan e Miguel Urbán Crespo.

Em todo o caso não representam a posição do grupo, até porque a eurodeputada francesa Manon Aubry, co-líder do grupo da Esquerda, apoiou a iniciativa.

Aubry disse à Euronews que seis emendas à resolução "melhoraram significativamente o texto", incluindo a adição de um pedido de cessar-fogo imediato, de maior envolvimento das Nações Unidas e da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), e para que os refugiados sejam bem-vindos.

"Eu co-assinei o texto inicial e votei no texto final como co-presidente do grupo da Esquerda porque queria enviar uma mensagem política clara, denunciando a agressão irresponsável de Putin e apoiando o povo ucraniano", acrescentou Aubry.

"Outras delegações decidiram abster-se ou votar contra o texto porque queriam insistir no risco de uma guerra global no continente se a União Europeia entrar no círculo vicioso da escalada militar".

A eurodeputada irlandesa Clare Daly, também do grupo da Esquerda, disse que votou contra a resolução porque o texto pede o aumento do fornecimento de armas para a Ucrânia, algo que “só piorará a situação” no seu entender.

"A única maneira para terminar o conflito é através do diálogo e de negociações de paz. Colocar mais armas na situação simplesmente é atear ainda mais o fogo", lembrou Daly à Euronews.

“É realmente lamentável que a NATO, os EUA e a União Europeia não apoiem a ideia de um acordo de paz mediado internacionalmente. Esta é a única solução. Ironicamente, são apenas os chineses que estão a apresentar isso neste momento, mas esse é o único caminho”, acrescentou.

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Parte do mesmo grupo parlamentar de Daly, a eurodeputada alemã Özlem Demirel também disse à Euronews que a resolução "atearia ainda mais o fogo" do conflito. Acusou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de usar a situação - incluindo o discurso de Zelenskyy - como uma desculpa em nome de uma agenda política mais alargada para transformar a União Europeia numa "união militar poderosa e tangível".

“Penso que é cínico abusar do sofrimento dos ucranianos para uma coisa assim. Os povos da Ucrânia, da Europa e do mundo querem viver em paz e segurança”.

Já o eurodeputado espanhol Miguel Urbán Crespo referiu que, embora “condene totalmente a invasão da Ucrânia por Putin”, a resolução apenas agrava a situação. “Diante de dois gigantes colocando sobre a mesa mais e mais armas, mais mísseis e começando a ameaçar recorrer a armas nucleares, a única saída é exigir a paz. Caso contrário, só levará à morte e à destruição”, disse.

O alemão Martin Schirdewan respondeu, através de um porta-voz, com uma declaração da delegação alemã do partido de esquerda "Die Linke" que disse que, embora condenasse as invasões da Rússia como uma "violação flagrante do direito internacional", era contra o envio de armas para a Ucrânia.

"A entrega pretendida de equipamento letal ao exército ucraniano no valor de 450 milhões de euros significa, em última análise, o afastamento final da posição comum das diretivas de exportação de armas da União Europeia, que proíbem a exportação de armas para zonas de guerra e de crise. Estas exportações de armamento são uma violação de um tabu na política externa europeia", sublinhou.

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"Uma guerra imperialista"

Alguns eurodeputados que votaram contra a resolução foram, no entanto, mais longe.

Em comunicado, os não-alinhados Kostas Papadakis e Lefteris Nikolaou-Alavanos disseram que o Partido Comunista da Grécia (KKE) condenou "a guerra imperialista, que é o resultado da competição imperialista por esferas de influência e recursos geradores de riqueza".

"Está-se a mover na perigosa direção de escalar a concorrência imperialista com equipamentos militares e sanções UE-NATO", disseram os eurodeputados.

Os portugueses Sandra Pereira e João Pimenta Lopes, que responderam à Euronews através de um porta-voz, ecoaram essa opinião.

Numa declaração, os membros do Partido Comunista Português acusaram a União Europeia e a NATO de apoiarem um golpe de Estado na Ucrânia em 2014, descreveram a invasão russa como uma “intervenção militar” e ecoaram a linha do Kremlin de que a Ucrânia é controlada por forças fascistas. Acusam a NATO e a União Europeia - e não Moscovo - de "promover a guerra".

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Já o grego Ioannos Lagos, não-inscrito que integra o grupo Identidade e Democracia (ID) no Parlamento Europeu e que foi um dos fundadores do partido neonazi grego Aurora Dourada, não respondeu ao pedido de declarações da Euronews. Como ele Francesca Donato, eurodeputada italiana e Marcel De Graff, que também integra do Grupo ID, não fizeram comentários.

O irlandês Mick Wallace, do grupo da Esquerda no Parlamento Europeu, disse, entretanto, à Euronews que seu voto contra a resolução poderia ser deturpado. Fez questão de ressalvar que quer ele quer a colega irlandesa Clare Daly condenam consistentemente a guerra, qualquer que seja.

"Continuaremos a nos opor tanto à agressão russa quanto à militarização da Europa, que não são do interesse de ucranianos, russos, europeus ou de qualquer outra pessoa", insistiu.

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