UE: Competitividade econónima domina cimeira, com guerra em fundo

O chanceler alemão, Olaf Scholz, em declarações à imprensa antes do início da cimeira da UE
O chanceler alemão, Olaf Scholz, em declarações à imprensa antes do início da cimeira da UE Direitos de autor Olivier Matthys/Copyright 2023 The AP. All rights reserved
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De  Isabel Marques da SilvaJorge Liboreiro
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O almoço de trabalho com o secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, é um dos pontos altos, já que acontece dois anos depois da sua última visita, quando ainda não havia guerra na Europa.

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Os líderes da União Europeia (UE) iniciam, quinta-feira, uma cimeira de dois dias, em Bruxelas, em que a invasão da Rússia na Ucrânia estará sempre em pano de fundo, mas o enfoque será na competitividade económica de longo prazo: fortalecimento da indústria interna e do mercado único,  estratégia comercial com países terceiros e autonomia energética. Haverá um ponto de situação sobre a migração.

No que à Ucrânia diz respeito, os 27 chefes de Estado e de governo vão carimbar o acordo obtido pelos chefes de diplomacia para um pacote de ajuda militar de dois mil milhões de euros para fornecer munições de artilharia de 155 mm.

Os líderes discutirão a possibilidade de completar a assistência com mais 3,5 mil milhões de euros nos próximos meses via Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, embora tal exija novas negociações e vários Estados-membros, incluindo Portugal, defendam que essa verba deve ser usada para promover a paz também noutros pontos do mundo.

Visita de António Guterres

O almoço de trabalho com o secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, é um dos pontos altos, já que acontece dois anos depois da sua última visita, quando ainda não havia guerra na Europa. 

Quando chegou ao Conselho Europeu, Guterres disse que ia "partilhar visões" com os Estados-membros da UE sobre as sanções, sendo que um dos maiores impactos se faz sentir nos preços dos alimentos (Ucrânia fornece grande quantidade de cereais e Rússia de fertilizantes agrícolas). Guterres está preocupado com o alastrar da fome, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento no chamado Sul Global.

O primeiro-ministro português, António Costa, concorda com esta visão e defendeu que é fundamental manter as sanções à Rússia e Bielorrússia, mas também assegurar que os países africanos e da América Latina não sofram "consequências colaterais indesejadas".

"Não podemos, nunca, ignorar que nestas sanções à Rússia e nas sanções à Bielorrússia temos de preservar as condições para que todos os outros países terceiros, nomeadamente os países africanos e os países da América Latina, não sofram consequências colaterais indesejadas", disse António Costa, pouco antes do início da cimeira.

António Costa considerou que é importante que "a União Europeia saiba ouvir a voz avisada e de bom senso do secretário-geral da ONU para que as sanções atinjam os objetivos pretendidos", mas "sem que isso afete outros países, outros povos, e, muito menos, ponha em risco a segurança alimentar à escala global".

O cxhefe do executivo português enalteceu o papel de António Guterres na construção da "Iniciativa de Cereais de Mar Negro", que permitiu a exportação de mais de 23 milhões de cereais ucranianos, contribuindo para conter a subida dos preços dos bens alimentares.

A exportação destes cereais da Ucrânia -- um dos maiores exportadores do mundo, tem especial relevância para os países africanos, onde há escassez.

Apesar do compromisso da UE com a Ucrânia, António Costa lembrou que essa é apenas "uma dimensão das relações internacionais" e "não se pode desvalorizar os compromissos que a União Europeia assumiu, por exemplo, com a União Africana, na cimeira de há um ano".

O primeiro-ministro também alertou para a crescente tensão entre Washington e Pequim: "Não queremos viver num mundo onde depois de décadas de bipolarização entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos temos um novo mundo fragmentado entre a China e os Estados Unidos. Há um papel que a Europa, África e a América Latina podem e devem desempenhar, juntamente com outros parceiros asiáticos, para termos um mundo mais justo, mais equilibrado e onde a paz se consolida."

Estratégia de longo prazo para a competitividade

Também sobre a mesa estará uma nova estratégia industrial, cujo objetivo é que o bloco tenha 40% da tecnologia crucial para combater as alterações climáticas, tais como painéis solares e turbinas eólicas, construídas dentro das suas próprias fronteiras, até 2030.

A França, em particular, está interessada em acrescentar a energia nuclear à lista dos projetos mais destacados no âmbito da estratégia industrial (PLano Industrial do Pacto Ecológico, apresentado pela Comissão Europeia). Umum pedido que vai enfrentar a resistência de países como a Alemanha, Espanha, Áustria, Dinamarca, Irlanda e Luxemburgo.

Ao chegar a Bruxelas, o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, manifestou-se fortemente contra a energia nuclear e disse que seria uma "farsa" colocar o rótulo ecológico nesse setor.

"(A energia nuclear) não é segura, não é assim tão rápida, não é barata e também não é amiga do clima. Não é, e há anos que digo isto", disse Bettel aos jornalistas, citando o acidente nuclear, em 2011, na central nuclear de Fukushima (Japão).

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Antes da cimeira, fonte do governo francês, sob anonimato, tentou clarificar a posição: "O que pedimos, e talvez precisemos de clarificar o nosso pedido, não é tanto que a energia nuclear seja considerada ecológica. É, antes, que apliquemos o conceito de neutralidade tecnológica e que isto se reflita nos textos".

A "sombra" chinesa

A reunião em Bruxelas realiza-se poucos dias depois de o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, se terem reunido em Moscovo (capital da Rússia) e para estreitarem os laços bilaterais.

Numa entrevista à euronews, na véspera da cimeira, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que o bloco não era "ingénuo" quanto a esta realidade. Mas acrescentou que tal não deve impedir Bruxelas de dialogar com o governo de Pequim.

"Precisamos de dialogar com a China, não porque concordemos em tudo com a China, pelo contrário, mas porque precisamos de defender os nossos interesses e princípios", disse Michel.

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A China não é um ponto oficial na agenda de quinta-feira, mas deverá ser mencionada nas discussões estratégicas sobre competitividade industrial e estratégia comercial.

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