União Europeia quer mais proteínas do mar via aquacultura, incluindo algas

Algae gathering from the sea in Europe, one of the blue economy most promising sectors
Algae gathering from the sea in Europe, one of the blue economy most promising sectors Direitos de autor Ocean/euronews
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De  Isabel Marques da Silva
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A aquacultura é vista como crucial para mitigar os desafios enfrentados pelo setor da pesca tradicional

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A aquacultura representa apenas 20% do consumo de produtos do mar na União Europeia (UE), muito abaixo da média mundial de 50%, algo que a Comissão Europeia e os intervenientes no setor esperam inverter.

O cultivo de pescado e outros produtos comestíveis é visto como fundamental para atenuar os desafios enfrentados pela indústria pesqueira tradicional baseada na captura de espécies selvagens.

"Temos de procurar histórias de sucesso de utilizações económicas alternativas do mar, que possamos expandir e partilhar nas zonas costeiras europeias, para criar novos empregos mais resilientes", disse Virginijus Sinkevičius, Comissário Europeu para o Ambiente, Oceano e Pescas, em entrevista à euronews.

"Estar dependente apenas das pescas e do turismo é muito arriscado para a economia azul. Vimos isso com a pandemia da Covid-19, que foi um grande golpe para estes setores porque tiveram de parar e as pessoas ficaram sem rendimentos. O mesmo aconteceu com a agressão russa na Ucrânia, que teve um enorme impacto nos preços do gasóleo utilizado pelos barcos. Foi novamente um período muito difícil para o setor das pescas, que enfrentou custos operacionais crescentes", disse Sinkevičius.

A Comissão Europeia apresentou, em fevereiro passado, um pacote de medidas para melhorar a sustentabilidade e a resiliência do setor das pescas e da aquacultura da UE e o Parlamento Europeu está, também, a preparar um relatório sobre os últimos 10 anos da política comum das pescas.

Há espaço para todos, só precisamos de nos reunir à volta da mesa, trabalhar com os investigadores e fazer com que todos, incluindo os pescadores, avancem na direção certa.
Pierre Karleskind
Presidente da Comissão das Pescas do Parlamento Europeu

Pierre Karleskind, presidente da Comissão das Pescas do Parlamento Europeu, defende uma abordagem equilibrada entre as utilizações económicas e a protecção da biodiversidade.

"Estamos interessados nesta ideia de planeamento espacial marrítimo, em que podemos determinar quais os locais onde podemos pescar, quais os locais destinados à conservação da biodiversidade e quais aqueles onded podemos desenvolver a aquacultura. Há espaço para todos, só precisamos de nos reunir à volta da mesa, trabalhar com os investigadores e fazer com que todos, incluindo os pescadores, avancem na direção certa", disse o eurodeputado liberal francês à euronews.

O potencial das algas

O Relatório sobre a Economia Azul da UE 2023, lançado na semana passada, afirma que as algas são fundamentais para esta nova abordagem, gerando, anuaçmente, um volume de negócios de 10 milhões de euros em países tais como França, Espanha e Portugal, onde estão a desenvolver-se rapidamente.

A nível mundial, as algas são maioritariamente cultivadas e mais de 97% de toda a produção provém da Ásia, sendo a produção chinesa responsável por 57% do total. 

Atualmente, existem cerca de 80 empresas que se dedicam à aquacultura de algas, espalhadas por vários países da União Europeia, com a produção centrada sobretudo em quatro tipos de algas.
Helena Abreu
Vice-presidente da Associação Internacional de Algas Marinhas

A UE importa a maior parte do que utiliza em várias indústrias, desde a alimentar à farmacêutica e cosmética e, atualmente, até à têxtil. Tem havido também alguma colheita de stocks selvagens e os sistemas de aquacultura estão a tornar-se mais comuns.

"A Europa importa, atualmente, cerca de 600 milhões de euros, por ano, em produtos à base de algas e o objetivo é inverter esta situação. Atualmente, existem cerca de 80 empresas que se dedicam à aquacultura de algas, espalhadas por vários países da União Europeia, com a produção centrada sobretudo em quatro tipos de algas que permitem o desenvolvimento deste setor tanto no Norte como no Sul da Europa", disse Helena Abreu, vice-presidente da Associação Internacional de Algas Marinhas, à euronews.

Mas ainda há muito a fazer em termos de facilitar o acesso ao espaço marinho, de forma a identificar as melhores localizações para estas explorações, bem como mecanismos de apoio à transferência de tecnologia da investigação para o mercado e, ainda, sensibilizar o público através da criação de estratégias de informação e marketing. 

Queremos um acesso fácil ao mar ou à água do mar, seja em terra ou no mar, e o encorajamento à criação de empresas.
Jean-Baptiste Wallaert
Presidente da União Francesa de Algas e Plantas Marinhas

Os empreendedores pedem melhor regulamentação da atividade por parte da UE por forma a obter mais proteína com técnicas que têm baixa produção de dióxido de carbono.

"A nível regulamentar, queremos uma concorrência leal, queremos que as regras sejam iguais para todos. A UE pode, antes de mais, fornecer este quadro. Queremos um acesso fácil ao mar ou à água do mar, seja em terra ou no mar, e o encorajamento à criação de empresas", disse Jean-Baptiste Wallaert, presidente da União Francesa de Algas e Plantas Marinhas, à euronews.

"Queremos que a lista de algas que podem ser utilizadas seja um pouco mais longa: na Bretanha, temos 700 espécies de algas, mas para consumo humano, só temos 40 espécies autorizadas", acrescentou.

A Comissão Europeia já se comprometeu a pôr em prática ações de apoio a este setor, nomeadamente "financiando projetos-piloto de reorientação de carreiras e apoiando as pequenas e médias empresas e os projectos inovadores no setor das algas" e "realizando estudos e debates para compreender melhor o papel das algas" na produção económica sustentável e nas estratégias de combate às alterações climáticas.

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