O resultado das eleições em Espanha terá sido um alívio para aqueles que nas instituições da UE temiam uma ascensão da extrema-direita. Mas o impasse poderá criar incerteza sobre o sucesso do atual governo na presidência do Conselho da UE.
O partido de extrema-direita em Espanha, Vox, perdeu 19 deputados, naquela que é uma tendência contrária ao que aconteceu, recentemente, noutros países da União Europeia (UE), tais como Itália, Suécia e Finlândia.
Esse resultado também inviabilizou, por agora, um governo de maioria de direita, em coligação com o Partido Popular, o mais votado. Será este um sinal de abrandamento da ascensão da extrema-direita na Europa?
"Não se pode extrapolar este resultado para outros países europeus, não se pode dizer que a extrema-direita foi "travada" em Espanha e que vamos assistir a uma onda de reação contra a extrema-direita noutras partes da Europa, porque são partidos de extrema-direita distintos, que não surgiram da mesma raíz e que não têm os mesmos objetivos finais. E também acho que o Vox vai ter dificuldade em reerguer-se depois do fracasso de ontem", disse Camino Mortera, analista política no Centro para a Reforma Europeia, em Bruxelas, em entrevista à euronews.
Incerteza na gestão da presidência da UE
As eleições legislativas antecipadas realizaram-se pouco depois do início da presidência espanhola do Conselho da União Europeia, no segundo semestre do ano. Foram antecipadas pela coligação de centro-esquerda para clarificar a situação interna, depois de ter perdido as eleições regionais, mas poderá exigir nova ida às urnas ate ao final do ano, o que gera incerteza a nível da UE.
"Pprovavelmente há sentimentos contraditórios em Bruxelas. Por um lado, haverá satisfação para alguns pelo facto da extrema-direita em Espanha não ter conseguido um resultado significativo, por ter menos deputados e não ser capaz de condicionar um novo governo", referiu Matías Pino, analista do Europe Elects, à euronews.
"Mas, em todo o caso, a aritmética para formar um novo governo é um pouco incerta, imprevisível, e não é claro se o atual governo de coligação será revalidado. E também não é claro se vamos assistir a uma repetição das eleições dentro de dois ou três meses. Obviamente, isto acrescenta incerteza a meio da presidência rotativa do Conselho da União Europeia", acrescentou Pino.
Se a indefinição se arrastar, será complicado para o governo de Pedro Sánchez gerir a instabilidade interna com as tarefas em Bruxelas, que passam, sobretudo, pela coordenação de reuniões com ministros dos 28 países.
A Comissão Europeia precisa do apoio do executivo de Madrid para ajudar a aprovar legislação importante, tal como a reforma do mercado da eletricidade e o pacto sobre a migração e asilo.
"No que toca aos dossiês importantes que têm de ser finalizados, sabemos que, por vezes, falta apenas percorrer o último quilómetro mas que esse é o mais difícil. Por conseguinte, congratulo-me por poder contar com a dedicação espanhola, com a liderança espanhola e com o profundo espírito europeu espanhol. Aguardo com grande expetativa a Presidência espanhola", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no discurso que fez na cerimónia de inauguração da presidência espanhola, em Madrid.
Espanha elencou quatro prioridades para a sua presidência da UE: reindustrialziação, combate às mudanças climáticas, mais justiça social e maior unidade política entre os Estados-membros da UE. O apoio à Ucrânia também será importante, tendo sido esse o país que Pedro Sánchez visitou logo no início da sua liderança do semestre.