Os planos da Comissão Europeia para rever o estatuto de conservação do lobo na Europa dividiram o Parlamento Europeu, num debate, quarta-feira, em Estrasburgo.
Num debate convocado pelo Partido Popular Europeu (centro-direita), na quarta-feira, os eurodeputados desta bancada afirmaram que a revisão do estatuto é necessária para proteger a subsistência dos agricultores das regiões montanhosas, cujo gado está a ser dizimado pelas matilhas de lobos.
"Atualmente, existem cerca de 20 mil lobos na União Europeia (UE) e a população está a aumentar", afirmou Herbert Dorfmann, eurodeputado italiano que é porta-voz do partido para a área da agricultura.
"Os ataques de lobos a ovelhas e outro gado tornaram-se uma ocorrência quase diária. Temos de reconhecer o conflito entre os lobos e os agricultores locais", acrescentou.
"Estamos sempre a falar de coexistência. Mas se dois grupos coexistem num território onde um é intocável e o outro é forçado a sofrer, então não é coexistência, é subordinação", afirmou Alessandro Panza, eurodpeutado italiano do Grupo Identidade e Democracia (extrema-direita).
A proposta, muito pessoal, de von der Leyen
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi acusada por outros eurodeputados de estar a chamar a atenção para esta questão para obter vantagens pessoais e sem uma base científica.
Em setembro do ano passado, von der Leyen foi pessoalmente afetada pelo aumento das populações de lobos, quando o seu pónei foi morto por um lobo, no nordeste da Alemanha.
"Esta é uma tentativa de abuso de poder por parte da presidente von der Leyen", afirmou Anja Hazekamp, do Grupo da Esquerda.
Thomas Waitz, dos Verdes, acrescentou: "Este é um falso debate e estamos a espalhar o pânico. Os lobos não comem avós ou crianças e devemos encontrar uma solução adequada para o problema".
Von der Leyen anunciou que o seu executivo iria lançar uma revisão do estatuto de proteção da espécie, descrevendo o lobo como uma "ameaça real" para o gado e para a segurança humana.
Von der Leyen instou, também, as autoridades locais e nacionais a tirarem partido das derrogações à legislação da UE para permitir que os agricultores tomem medidas específicas para proteger as suas culturas e meios de subsistência, como a utilização de armadilhas de "captura suave" para os lobos.
O ressurgimento das matilhas de lobos na Europa provocou tensões entre as comunidades agrícolas e tornou-se o mais recente problema a colocar em confronto ambientalistas e agricultores.
Num sinal do seu crescente capital político, os agricultores tiveram um lugar de destaque no discurso de uma hora de duração de Ursula von der Leyen sobre o Estado da União, quando apelou a "mais diálogo e menos polarização".
Lobos são importantes para a biodiversidade
Organizações não-governamentais (ONG) tais como o Fundo Mundial para a Natureza e o Gabinete Europeu do Ambiente (EEB) manifestaram a sua preocupação com a "informação enganosa" da Comissão Europeia sobre o perigo do lobo, assegurando que o seu regresso à Europa é uma vitória para a biodiversidade.
"As provas científicas demonstraram que os lobos não tratam os seres humanos como presas e que os encontros fatais são excecionais", afirmam as ONG numa carta aberta a von der Leyen.
"Os danos causados ao gado estão frequentemente relacionados com a falta de supervisão adequada e/ou de proteção física", acrescentaram.
Em novembro do ano passado, uma resolução do Parlamento Europeu solicitou à Comissão que apoiasse o sector agrícola, garantindo mais flexibilidade na proteção dos seus animais contra ataques.