Ativistas criticam baixa captação de impostos sobre indústria de energia fóssil

A Comissão Europeia definiu uma "contribuição temporária de solidariedade" em setembro de 2022
A Comissão Europeia definiu uma "contribuição temporária de solidariedade" em setembro de 2022 Direitos de autor Mark Humphrey/AP
De  Vincenzo GenoveseIsabel Marques da Silva
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

As empresas de combustíveis fósseis da União Europeia (UE) conseguiram enfraquecer novos impostos extraordinários sobre os lucros inesperados durante a crise energética que se seguiu ao início da guerra na Ucrânia, acusa a Fossil Free Politics, uma coligação de associações ambientientalistas.

PUBLICIDADE

A Fossil Free Politics é uma coligação de associações ambientalistas que organizou um protesto, em Bruxelas, para debater o tema, numa espécie de "visita guiada" ao exterior das representações das empresas de produção de energia a partir de combustíveis fósseis.

Um dos exemplo dados é a italiana ENI, que teve, em 2022, mais do que o dobro dos lucros em anos anteriores à  crise. Apesar do governo italano ter sido do primeiros a criar um novo imposto de 25% sobre esses excedentes, a ENI conseguiu quase escapar-lhe.

“A lei foi tão mal redigida que todas as empresas de energia recorreram ao tribunal para a contestar. Da estimativa inicial de 11 mil milhões de euros a arrecadar em impostos, apenas 2,8 mil milhões foram coletados”, explicou o ativista Alessandro Runci.

Outro exemplo vem da Chéquia, onde a empresa EPH ameaçou mudar uma das suas sociedades para o estrangeiro quando foi confrontada com a possibilidade de um imposto sobre 100% dos lucros obtidos em 2022, e a lei foi mudada.

“Conseguiram adiar a implementação do imposto extraordinário de 2022 para 2023. Portanto, a maior parte dos seus lucros não foi tributada pelo imposto extraordinário. E também conseguiram suavizar a fatia tributável, que em vez de 100% passou para 60% dos lucros de 2023", disse o ativista Radek Kubala, da ReSet.

O Governo de Espanha também enfrentou desafios na aplicação do imposto extraordinário de 1,2% sobre as receitas destas empresas, em 2022, e o caso acabou no tribunal.

"A Endesa e Iberdrola contestaram o imposto num litígio administrativo que ainda não foi resolvido, porque dizem que a UE recomendou um imposto sobre os lucros e não sobre o rendimento, e que isso os prejudica", referiu Irene González, ativista na Aliança Contra a Pobreza Energética da Catalunha.

O poder do lóbi em 200 reuniões

De facto, em setembro de 2022, a Comissão Europeia definiu uma "contribuição temporária de solidariedade" deste setor, ao nível dos lucros que ficaram 20% acima da média dos últimos três anos.

Numa crise energética, que está ligada ao abastecimento de gás, penso que é perfeitamente normal que também o setor do gás se envolva nessas discussões com a Comissão Europeia
Nareg Terzian
Ddiretor de Estratégia e Comunicação, IOGP Europa

A Fossil Free Politics afirma que a diretiva a aplicar por todos os Estados-membros foi enfraquecida pelo lóbi da indústia, mas a associação internacional que a representa (IGOP) diz que o diálogo é normal e desejável.

“Numa crise energética, que está ligada ao abastecimento de gás, penso que é perfeitamente normal que também o setor do gás se envolva nessas discussões com a Comissão Europeia. Para mim, é bom senso“, afirmou  Nareg Terzian, diretor de Estratégia e Comunicação da deelgação da IOGP para a Europa.

Segundo registos analisados pelos ativistas, houve mais de 200 reuniões entre funcionários da UE e lobistas dos combustíveis fósseis no período de 12 meses após a invasão da Rússia, quase uma por dia útil.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Empresas de energia obtêm lucros elevados em 2022

Comissão Europeia propõe usar lucros excessivos da energia para ajudar consumidores

Noruega debate lucros do gás e petróleo