A mobilização dos agricultores europeus continua inabalável: cerca de 15 países da UE assistiram a manifestações em grande escala, nos últimos 18 meses. A presidência belga do Conselho da UE admite a necessidade de repensar a Política Agrícola Comum.
Tudo começou nos Países Baixos com manifestações contra o plano do governo de reduzir as emissões de azoto através da redução da criação de gado. O mesmo slogan foi usado na Irlanda e na Bélgica.
Na Roménia e na Polónia, os agricultores criticaram as importações de cereais ucranianos isentos de tarifas alfandegárias, que estão a desestabilizar os mercados locais.
Na Alemanha, os profissionais protestam contra o fim de uma redução fiscal sobre o gasóleo, a partir de 2026, e contra as normas ambientais da UE. O slogan é praticamente o mesmo na França.
Embora as questões práticas variem de um país para outro, todos apelam a melhores rendimentos e regras mais simples.
“Há mais exigências em termos ambientais, e ao mesmo tempo, os apoios públicos caíram drasticamente. Se fizermos um cálculo simples, entre 2003 e 2023, o valor das ajudas diretas terá caído 37%, o que representa metade do rendimento dos agricultores, em média, na Europa", disse o analista Luc Vernet, do centro de estudos Farm Europe, em entrevista à euronews.
Programa "Do Prado para o Prato"
O Pacto Ecológico Europeu, criado pela Comissão Europeia, cristaliza as tensões no setor agrícola e, em particular, o programa "Do Prado para o Prato", que visa promover uma agricultura ambientalmente mais sustentável.
"Esse programa foi, inicialmente, concebido como uma estratégia que imporia normas para forçar a mudança, com a ideia de que, ao deslocarem-se para o mercado de alta gama, os consumidores pagariam mais. Os banqueiros concederiam crédito mais acessível para financiar os investimentos dos agricultores", explicou Luc Vernet.
"É preciso dizer que esta equação não é possível hoje. Os consumidores estão a afastar-se dos produtos mais caros e o setor biológico enfrenta sérias dificuldades. O período de dinheiro fácil que teria permitido o investimento não chegou, é coisa do passado”, acrescentou.
Num futuro imediato, a presidência belga do Conselho da União Europeia propõe uma revisão da atual Política Agrícola Comum (PAC), disse o ministro belga, David Clarinval, à euronews: “Vamos fazer uma análise comparativa da forma como as coisas foram configuradas no ano passado".
"E, obviamente, com base nesta análise comparativa, vamos usar as melhores práticas, que são eficazes, e também começar o processo de correção a nível europeu", acrescentou o ministro com a pasta da Agricultura.
A PAC continua a absorver a maior fatia dos fundos da UE. O desafio para os Estados-membros é encontrar um equilíbrio entre as ambições para travar as alterações climáticas, para quais a agricultura contribui fortemente, e a dimensão económica do setor que precisa de apoio para se manter competitivo a nível global.