Eurodeputados criticam PM da Finlândida por aliança com extrema-direita

O primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, foi duramente criticado pelos deputados progressistas do Parlamento Europeu.
O primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, foi duramente criticado pelos deputados progressistas do Parlamento Europeu. Direitos de autor Jean-Francois Badias/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.
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De  Jorge Liboreiro
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Artigo publicado originalmente em inglês

O primeiro-ministro da Finlândia discursou na quarta-feira perante o Parlamento Europeu e delineou as suas prioridades políticas para a próxima legislatura.

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"O meu governo está empenhado numa União Europeia forte. Uma UE que atue e não apenas reaja. Queremos construir uma União que cuide da nossa segurança comum e trabalhe para a nossa economia", disse Petteri Orpo, na sessão plenária, em Estrasburgo.

Mas o discurso do primeiro-ministro foi recebido com muitas críticas das alas mais progressistas por causa da aliança com o Partido dos Finlandeses, um partido de extrema-direita populista e eurocético que tem estado envolvido em casos de racismo, antissemitismo e neonazismo.

O Partido dos Finlandeses faz parte do grupo de extrema-direita Conservadores e Reformistas Europeus (CRE) do Parlamento Europeu. Já a Coligação Nacional, a que pertence Orpo, está na bancada do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita. O governo de Orpo também inclui membros do Partido Popular Sueco da Finlândia (na bancada liberal Renovar a Europa) e dos Democratas-Cristãos (também na bancada do PPE).

Um dos ministros do Partido dos Finalandeses, Vilhelm Junnila, pediu demissãodepois de ter sido revelado que tinha feito piadas sobre Hitler e por defender mais abortos em África como método de combate às alterações climáticas. 

O líder do partido, Riikka Purra, pediu também desculpa por ter feito comentários racistas sobre imigrantes turcos e somalis.

A vossa aliança com a extrema-direita é a verdadeira ameaça à nossa democracia e ao projeto europeu. É por isso que o futuro da União Europeia está em jogo.
Iratxe Garcia
Eurodeputada, centro-esquerda, Espanha

As forças progressistas vêem o governo de Helsínquia como uma prova da linha cada vez mais ténue entre a direita tradicional e a extrema-direita, um fenómeno que está a espalhar-se rapidamente pelo bloco europeu e ameaça a viabilidade da integração europeia.

Iratxe García Pérez, líder dos Socialistas e Democratas (S&D), fez fortes acusação contra o convidado de honra, dizendo-lhe: "O seu único inimigo é a extrema-direita." A eurodeputada espanhola também citou o presidente do PPE, Manfred Weber, que  considera ser o cérebro por trás da aproximação ideológica.

"A vossa aliança com a extrema-direita é a verdadeira ameaça à nossa democracia e ao projeto europeu. É por isso que o futuro da União Europeia está em jogo", afirmou García Pérez.

"Em tempos de incerteza e de grandes transformações, não basta tentar resistir à onda reacionária. Temos de avançar. Sr. Orpo, Sr. Weber: ponham fim à vossa aliança com aqueles que querem destruir a Europa", disse, ainda.

O futuro do Pacto Ecológico

Outro ponto de discórdia foi a proposta de Orpo de repensar o Pacto Ecológico após as eleições para o Parlamento Europeu, marcadas para 6 a 9 de junho. O primeiro-ministro finlandês instou o bloco a "recalibrar a nossa política climática e a abandonar a regulamentação excessivamente pormenorizada para promover a inovação".

"Precisamos de incentivos e não de paus e burocracia", afirmou, suscitando aplausos dos deputados do PPE, que adotaram uma posição mais crítica em relação ao Pacto Ecológico liderado por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

Philippe Lamberts, eurodeputado belga e co-presidente dos Verdes, não concordou com a posição de Orpo e argumentou que a postura frugal da Finlândia em relação à despesa pública está em "contradição" com os objetivos de implantação das energias renováveis, uma vez que isso implica despesas significativas para todos os Estados-membros.

"A regulamentação estabelece objetivos e cria mercados. Não se pode dizer ao mesmo tempo que precisamos de mais incentivos, mas depois não queremos gastar dinheiro com isso. O que é que são as cenouras se não for dinheiro público?", questionou.

Lamberts também criticou o governo de Orpo, dizendo que "pessoas como nós nunca, nunca devem fazer alianças com pessoas que de facto consideram alguns seres humanos como inferiores".

"Foi isso que fizeram na Finlândia. E fico contente, Manfred (Weber), que os seus colegas em Portugal não o façam", disse, referindo-se ao recente resultado das eleições legislativas em Portugal,  com a aliança de social-democratas e democratas-cristão vencedora a excluir qualquer entendimento para governar em coligação com a extrema-direita do partido Chega.

Finland's Petteri Orpo addressed the European Parliament in Strasbourg, France.
Finland's Petteri Orpo addressed the European Parliament in Strasbourg, France.European Union, 2024.

Alguns eurodeputados da extrema-direita tiveram palavras mais simpáticas para o líder finlandês, nomeadamente Nicola Procaccini, co-presidente do grupo ECR, que afirmou que a sua vitória eleitoral foi "mais importante do que alguma vez possa imaginar".

"E ainda mais importante foi a sua escolha para governar ao lado do Partido dos Filandeses, um membro notável da nossa família política. Conseguiu resistir à pressão daqueles que não queriam uma coligação entre partidos do PPE e so CRE", disse Procaccini. "Se o centro-direita estiver unido, ganha em toda a Europa e a esquerda sabe isso muito bem", acrescentou.

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O grupo CRE é considerado ideologicamente mais tolerável para o PPE do que a outra formação eurocética no parlamento, Identidade e Democracia (ID), que engloba grupos como o Reagrupamento Nacional (França), Alternativa para a aAlemanha e o Partido da Liberdade (Áustria).

A presidente da Comissão Eurpeia e cabeça de lista do PPE às eleições, Ursula Von der Leyen, e o líder do PPE, Manfred Weber classificama ID como "amigos de Putin" e rejeitaram qualquer possível cooperação com essa bancada. 

No entanto, alguns membros da CRE, como os Irmãos de Itália, o Partido Democrático Cívico (Chéquia) e os Democratas da Suécia são vistos como parceiros mais adequados para o centro-direta tradicional, como demonstra o exemplo do atual governo da Finlândia.

As sondagens prevêem um aumento substancial de lugares para os grupos CRE e ID, o que enfraqueceria a grande coligação entre conservadores, socialistas e liberais.

No final do debate, o primeiro-ministro Orpo voltou a usar da palavra para defender a sua coligação e reiterar a sua agenda política, nomeadamente no que se refere ao apoio à Ucrânia, uma questão que o PPE utiliza como bitola para aferir da sua proximidade ideológica.

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"O governo finlandês é a favor do Estado de direito. É pró-democracia. É a favor da igualdade de direitos entre homens e mulheres. É pró-Ucrânia. É a favor da União Europeia", disse Orpo.

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