Os manifestantes simularam o funeral dos valores europeus, alegando que a União Europeia deve agir contra a violação de valores fundamentais em Gaza.
Um grupo de funcionários das instituições europeias marchou em Bruxelas, na quarta-feira, em memória das vítimas da guerra em Gaza e para assinalar o que descreveram como a "morte" dos valores europeus.
Os funcionários, que defenderam a sua imparcialidade e a natureza apolítica da manifestação, afirmam que os valores fundamentais da dignidade humana, da paz e do Estado de direito estão a ser violados em Gazae que a União Europeia (UE) deve agir.
Os manifestantes referem ainda que, enquanto projeto defensor da paz, a UE tem a responsabilidade de contribuir mais para os esforços internacionais, de modo a trazer a paz de volta a Gaza, que foi devastada pela guerra.
Num funeral simbólico, os manifestantes recorreram a sacos de cadáveres para representar a "morte" do direito internacional, dos tratados da UE e da Convenção sobre o Genocídio.
Não foram avistadas quaisquer bandeiras, nem sinais de filiação política, quando os funcionários das instituições europeias fizeram um minuto de silêncio pelas vidas palestinianasperdidas no conflito. Atualmente, o número de mortos é superior a 35.000, segundo as autoridades dirigidas pelo Hamas.
Esta é a segunda manifestação deste tipo no bairro europeu de Bruxelas desde o início da guerra, na sequência do ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023.
"Esta mobilização pacífica foi organizada por centenas de funcionários públicos e do pessoal que trabalha nas instituições da UE, e em torno das instituições da UE", disse Manus Carlisle, funcionário da Comissão Europeia e um dos organizadores da marcha, citado pelas agências internacionais.
A marcha contou com a presença de mais de 100 funcionários, mas os organizadores ainda não confirmaram os números oficiais.
"Estamos aqui para defender os valores e os princípios que nos são tão caros e que sentimos que não estão a ser respeitados neste momento em que a ofensiva continua em Rafah, em Gaza, na Cisjordânia", acrescentou Carlisle.
A marcha em Bruxelas ocorreu após as mais recentes negociações de cessar-fogo mediadas pelo Qatar, pelo Egipto e pelos Estados Unidos, que não produziram quaisquer resultados. A proposta foi aceite pelo Hamas, mas foi, posteriormente, rejeitada por Israel.
Apesar dos protestos internacionais, Israel parece estar agora a lançar uma ofensiva terrestre na cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde se estima que estejam abrigados cerca de 1,4 milhões de palestinianos. Israel aconselhou, no entanto, a população a retirar-se de Rafah para sua própria segurança.
Von der Leyen promete agir em caso de ataque em grande escala
Na terça-feira, o líder da democracia da UE, Josep Borrell, alertou para o facto de uma ofensiva terrestre em Rafah poder resultar num elevado número de mortes civis. Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, prometeu tomar medidas se o Governo de Benjamin Netanyahu avançar com um ataque em grande escala em Rafah.
Os 27 líderes da União Europeia têm vindo a apelar a um cessar-fogo em Gaza desde o final do mês de março, mas muitos cidadãos europeus consideram que a posição profundamente dividida do bloco sobre o conflito tem prejudicado o seu impacto diplomático.
Nos últimos dias, os protestos contra a ofensiva de Israel em Gaza e a crise humanitária daí resultante enraizaram-se em universidades de todo o bloco, muitas das quais apelam à suspensão das parcerias da UE com universidades israelitas.
Um porta-voz da UE reiterou na quarta-feira que as parcerias do bloco com universidades israelitas, ao abrigo do programa Horizonte Europa, devem cumprir "princípios éticos" e que as entidades nos territórios ocupados por Israel não são elegíveis.
Sara, funcionária de uma instituição da UE, disse à Euronews que os líderes da União Europeia precisam de "ir mais longe".
"Estou aqui como alguém que trabalha todos os dias para tornar a UE um lugar melhor. E a UE não pode ser um lugar melhor se o mundo não for um lugar melhor", disse Sara.
"Não podemos tolerar o ódio, não podemos tolerar a violência, não podemos tolerar este genocídio", vincou.