O executivo da UE aguarda mais detalhes da Eslováquia e da Hungria sobre a situação de fornecimento de petróleo antes de tomar qualquer ação adicional numa disputa sobre as sanções de Kiev contra a empresa petrolífera russa Lukoil, que continuou a abastecer os dois países através da Ucrânia.
A Comissão Europeia disse que não havia "risco imediato" da escassez de petróleo na Hungria ou na Eslováquia, depois dos dois países reclamarem sobre a decisão da Ucrânia no mês passado de impor sanções ao fornecedor russo Lukoil, que transita as exportações para os dois países através do país devastado pela guerra.
Enquanto a UE, como um todo, se moveu para diversificar os seus abastecimentos de petróleo e gás longe da Rússia, os dois membros orientais continuaram a receber o petróleo através do oleoduto Druzhba (amizade) da era soviética e a ação da Ucrânia levou Budapeste e Bratislava a pedir a intervenção da Comissão.
"De acordo com as informações que temos à nossa disposição, parece que as sanções impostas pela Ucrânia à Lukoil não afetam as operações em curso de trânsito de petróleo através de Druzhba realizadas por empresas comerciais, desde que a Lukoil não seja a antiga proprietária do petróleo", disse o porta-voz Balazs Ujvari aos repórteres.
As declarações foram ditas durante uma reunião hoje entre o comissário de comércio Valdis Dombrovskis e o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal, onde o assunto foi discutido em detalhe.
"Os serviços da comissão estão à espera de uma resposta detalhada da Eslováquia e da Hungria que nos permita confirmar que este é realmente o caso", acrescentou Ujvari.
Segundo um comunicado do governo ucraniano, Shmyhal descreveu as ações dos dois estados membros da UE como "altamente politizadas e manipuladoras".
"Estamos convencidos de que a verdadeira ameaça para esses países vem da Rússia, que está a tentar evitar sanções justas através da chantagem energética", disse Shmyhal. "E estamos gratos à Comissão Europeia pela sua política de limitar os recursos energéticos russos e apoiar os países da UE que estão a diversificar ativamente os seus fluxos energéticos."
O executivo da UE concluiu que "consultas urgentes não parecem ser justificadas neste momento" como a sua análise preliminar sugeriu que os volumes em falta da Lukoil foram substituídos por diferentes fornecedores através do mesmo oleoduto.
Questionado sobre se esta situação era provável que continuasse durante o próximo inverno, o porta-voz disse aos repórteres: "Não estamos no ponto de fazer esse tipo de análise de longo prazo, estamos a olhar para as preocupações imediatas de segurança do abastecimento, que também foram levantadas especificamente pelos dois países."
Apenas cerca de 3% do petróleo bruto da Europa vem agora da Rússia. Uma rota alternativa é através da Croácia, que tem capacidade de reserva suficiente para atender às necessidades dos dois países.
A Eslováquia e a Hungria tinham escrito ao executivo da UE na semana anterior, pedindo-lhe para intervir no contexto do Acordo de Associação UE-Ucrânia.
Os acordos de adesão à UE foram assinados há uma década para aprofundar os laços políticos e comerciais, e são vistos como um passo inicial para a eventual adesão à UE.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szíjjártó, disse há dois dias, terça-feira 30 de julho, que a falta de resposta do executivo da UE até então indicava que Bruxelas era "tão fraca que é incapaz" de defender os interesses de dois Estados-membros contra um país candidato. Ou então, insiniou, toda a pressão do petróleo tinha sido "inventada" pelo executivo da UE para "chantagear" dois países "pró-paz" que se recusam a permitir o envio de armas para a Ucrânia.
Um porta-voz da Comissão disse à Euronews não comentar as afirmações do ministro húngaro, que foram publicadas originalmente nas redes sociais.
A disputa ocorre num momento de crescentes tensões diplomáticas entre Bruxelas e Budapeste.
Depois de meses a usar o seu veto no Conselho da UE para adiar as sanções contra a Rússia, e bloquear a ajuda da UE à Ucrânia, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, provocou indignação quando usou as primeiras semanas de presidência rotativa para negociações intergovernamentais que chamou de "missão de paz", com visitar a Moscovo e Pequim.
Szíjjártó alertou , numa entrevista à estação de televisão húngara ATV na semana passada, que até a questão do trânsito de petróleo ser resolvida,a Hungria continuará a bloquear os 6,5 mil milhões de euros de ajuda militar à Ucrânia através do Fundo Europeu para a Paz.