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Bruxelas está pronta a mediar o conflito petrolífero entre a Hungria e a Ucrânia

O litígio entre a Hungria e a Ucrânia gira em torno da empresa russa Lukoil.
O litígio entre a Hungria e a Ucrânia gira em torno da empresa russa Lukoil. Direitos de autor Seth Wenig/Copyright 2022 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Seth Wenig/Copyright 2022 The AP. All rights reserved.
De  Jorge Liboreiro
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Artigo publicado originalmente em inglês

A Hungria e a Eslováquia ameaçam levar a Ucrânia a tribunal por causa da decisão do país de restringir o fornecimento de petróleo à empresa Lukoil.

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A Comissão Europeia está disposta a mediar o conflito crescente entre a Hungria e a Eslováquia, por um lado, e a Ucrânia, por outro, sobre a decisão desta última de reforçar as sanções contra a Lukoil, uma empresa sediada em Moscovo, e, consequentemente, restringir o trânsito de petróleo bruto russo através do seu território.

Kiev argumenta que as sanções são necessárias para reduzir as receitas do Kremlin que sustentam a invasão militar, que já vai no seu terceiro ano. Mas Budapeste e Bratislava ripostaram furiosamente, queixando-se de que a interrupção do fornecimento de energia ameaça as suas economias.

Numa carta conjunta, os dois países pediram à Comissão que interviesse e lançasse um processo de consulta ao abrigo do Acordo de Associação UE-Ucrânia. Bruxelas tomou conhecimento da petição e insiste que qualquer procedimento, a existir, será iniciado pelo próprio executivo, que tem competência exclusiva em matéria de política comercial.

"Estamos atualmente a estudar o conteúdo desta carta e a recolher mais informações antes de tomarmos qualquer decisão", afirmou um porta-voz da Comissão na terça-feira. "De momento, não há qualquer impacto imediato na segurança do abastecimento de petróleo à UE".

A pedido da Hungria e da Eslováquia, terá lugar na quarta-feira uma reunião do Comité de Política Comercial, que ajudará a "avaliar os fatos".

"A Comissão está pronta a apoiar o impacto nos Estados-Membros e a encontrar uma solução em conjunto com a Ucrânia", acrescentou o porta-voz, referindo que Kiev também será envolvida nas discussões.

A carta conjunta foi enviada na segunda-feira, numa altura em que os ministros dos Negócios Estrangeiros do bloco se reuniam para debater a agressão russa. O representante da Hungria, Péter Szijjártó, aproveitou a ocasião para abordar o tema com os seus pares.

"Dissemos às autoridades ucranianas que se tratou de uma decisão incompreensível, inaceitável e hostil", afirmou Szijjártó em comunicado.

"É estranho que um país que aspira a integrar-se na UE esteja a pôr seriamente em risco o abastecimento energético de dois Estados-membros".

O seu homólogo eslovaco, Juraj Blanár, foi igualmente crítico e disse que as restrições impostas aos fornecimentos da Lukoil representavam uma "clara violação" do Acordo de Associação.

"Recusamo-nos a ser um instrumento político", escreveu no Facebook. "Defender-nos-emos com determinação e utilizaremos todas as possibilidades do direito europeu".

Péter Szijjártó, da Hungria, ameaçou levar a Ucrânia a tribunal por causa das restrições impostas à empresa Lukoil.
Péter Szijjártó, da Hungria, ameaçou levar a Ucrânia a tribunal por causa das restrições impostas à empresa Lukoil.Geert Vanden Wijngaert/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.

Com as tensões ao rubro, a Hungria e a Eslováquia avisam que, se a mediação liderada pela UE não conseguir dar uma resposta satisfatória, levarão a Ucrânia a tribunal.

A Hungria e a Eslováquia estão, juntamente com a Chéquia, isentas de uma interdição a nível da UE que proíbe a compra de petróleo bruto russo. A derrogação, que ficou famosa por Viktor Orbán numa cimeira de alto nível, permite aos três Estados sem litoral receberem petróleo através do oleoduto Druzhba, que vai da Rússia à Europa Central.

A Lukoil é o principal operador do oleoduto, mas não é o único: A Tatneft, a Gazprom Neft, a Russneft e outras empresas de pequena dimensão também utilizam esta rota. De acordo com a Reuters, o ramal sul do oleoduto transporta diariamente cerca de 250 000 barris de petróleo russo. O principal comprador é o Grupo MOL, que opera refinarias na Eslováquia e na Hungria.

"As sanções da UE, que contestámos em várias ocasiões e que, neste caso, demonstraram ter um maior impacto negativo na Eslováquia e na UE do que na própria Rússia, estabelecem claramente que a Eslováquia tem uma isenção para as importações de petróleo até ao final do ano", afirmou Blanár na sua declaração. "A parte ucraniana impediu-nos de exercer esta isenção".

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A polémica surge na sequência da auto-intitulada "missão de paz" de Orbán, uma série de visitas não anunciadas que levaram o primeiro-ministro húngaro a deslocar-se a Kiev, Moscovo e Pequim para discutir o fim da guerra na Ucrânia. O seu encontro com Vladimir Putin revelou-se extremamente controverso e alimentou um boicote crescente à presidência semestral da Hungria no Conselho da UE, que teve início a 1 de julho.

Numa entrevista aos meios de comunicação locais, Szijjártó associou a disputa do petróleo ao prolongado veto da Hungria à assistência militar da UE à Ucrânia, que impediu a libertação de 6,5 mil milhões de euros em reembolsos devidos a outros Estados-Membros.

"Enquanto esta questão não for resolvida pela Ucrânia, todos devem esquecer o pagamento dos 6,5 mil milhões de euros de indemnização pela transferência de armas", disse Szijjártó. "Porque como seria o pagamento de 6,5 mil milhões de euros? Nós contribuímos enquanto a Ucrânia ameaça a segurança do nosso abastecimento energético".

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