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Governo de Itália pondera exploração de energia nuclear

Central eléctrica da Enel em Livorno Ferraris
Central eléctrica da Enel em Livorno Ferraris Direitos de autor Antonio Calanni/AP2008
Direitos de autor Antonio Calanni/AP2008
De  Giorgia Orlandi
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O governo pretende aprovar um projeto de lei para permitir a utilização de novas tecnologias até 2025, mas a opinião pública italiana continua muito dividida sobre o tema.

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O regresso à energia nuclear, abandonada pela Itália num referendo em 1987, tem sido repetidamente apresentado como a solução ideal para a necessidade de reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Apesar de a maioria dos italianos ter reiterado a sua oposição no referendo de 2011, a ideia está a ser considerada pelo atual Governo, tendo em conta os desafios geopolíticos colocados pela guerra russo-ucraniana, que tornam necessário alcançar a independência energética.

O ministro do Meio Ambiente, Gilberto Pichetto Fratin, anunciou o objetivo de aprovar um projeto de lei para regulamentar o uso de novas tecnologias no setor até 2025. O governo nomeou uma equipa de peritos para estudar o quadro legislativo e está em curso uma investigação sobre o assunto na Comissão do Ambiente e na Comissão de ctividades Produtivas, Comércio e Turismo da Câmara dos Deputados.

A Euronews falou sobre o assunto com Riccardo Zucconi, deputado dos Fratelli d'Italia e membro da Comissão das Atividades Produtivas, para perceber qual é a posição do executivo sobre o assunto. "A investigação ainda está em curso”, explica Zucconi, ”e ainda falta uma indicação inequívoca e determinada. A criação de uma nova plataforma pelo Ministério da Energia é significativa, uma vez que mapeia as centrais nucleares que ainda existem tanto em Itália como na Europa”.

De acordo com Zucconi, a procura mundial de energia deverá duplicar nos próximos dez anos e as energias renováveis, por si só, não são suficientes. "Estão a surgir opções alternativas, incluindo uma nova geração de centrais mais pequenas, que devem ser seriamente consideradas”. A Itália, salienta Zucconi, não carece de know-how no sector.

De acordo com o Plano Nacional Integrado para a Energia e o Clima (Pniec) do Governo, a utilização de novos tipos de centrais poderá cobrir até 11% da procura nacional de energia até 2050.

No entanto, Zucconi sublinha a importância de envolver os cidadãos: “Estamos numa democracia e o público deve ser preparado e informado, o público deve ser ouvido sobre esta vontade”, acrescentando que as antigas grandes centrais nucleares, que muitas vezes causaram aversão na opinião pública, estão destinadas a desaparecer.

A compatibilidade entre a energia nuclear e as energias renováveis

A questão é saber até que ponto a energia nuclear pode contribuir para a transição verde e a sua compatibilidade com as energias renováveis. Segundo o documento elaborado pela Edison, Ansaldo-nucleare e o think-tank The house of Ambrosetti, publicado no recente Fórum Thea em Cernobbio, o investimento em novas centrais nucleares pode gerar um impacto económico de cerca de 50 mil milhões de euros e criar 117.000 novos postos de trabalho entre 2030 e 2050.

Lorenzo Tavazzi, sócio principal do Grupo Teha que participou no estudo, explicou à Euronews que o nuclear e as energias renováveis podem trabalhar em conjunto. “A energia nuclear e as energias renováveis não estão em oposição, mas sim em integração”, afirma. “Isto porque a energia nuclear pode gerar uma forma contínua de energia, enquanto as energias renováveis são intermitentes. Por isso, a integração das duas fontes pode acelerar o uso de tecnologias limpas e a descarbonização”.

O longo período de construção, que pode chegar a dez anos, é o foco de muitas objecções. “A variável tempo é crucial porque tem impacto nos custos de produção, pelo que o seu respeito é fundamental”, afirma Tavazzi, acrescentando que a questão do desenvolvimento de novas tecnologias no sector nuclear é também uma questão europeia e que, por isso, as oportunidades para a indústria italiana devem ser vistas num contexto mais amplo da UE.

Algumas organizações ambientalistas continuam a opor-se à utilização da energia nuclear para a descarbonização. O grupo de reflexão italiano Ecco acredita que as tecnologias nucleares são demasiado caras e demoram demasiado tempo a implementar, o que as torna menos do que ideais para complementar as energias renováveis.

Michele Governatori, responsável pelo sector da eletricidade e do gás da Ecco, disse à Euronews: “Cada vez mais horas do dia e do ano as energias renováveis vão cobrir a totalidade da procura de energia. O que precisamos é de fontes flexíveis que possam ser ligadas e desligadas para complementar a disponibilidade das energias renováveis. Mas o nuclear não é flexível”, afirma.

“As energias renováveis estão a crescer porque estão prontas e acessíveis. Para as integrar, precisamos de reservas flexíveis e neutras em termos de carbono e de muito armazenamento, e não de uma tecnologia cara e rígida que requer longos períodos de implementação, como é o caso da energia nuclear”, defende Governatori.

Entretanto, a opinião pública em Itália está muito dividida sobre a questão, tal como na Europa. Apenas um quarto da eletricidade da UE depende da energia nuclear e o debate ainda está em aberto.

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