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Eleitores portugueses chocados com resultados das eleições, temem deriva populista

Portugueses reagiram com choque ao crescimento do Chega nestas eleições
Portugueses reagiram com choque ao crescimento do Chega nestas eleições Direitos de autor  Ana Brigida/Copyright 2025 The AP. All rights reserved
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De Joana Mourão Carvalho com AP
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Resultados pressagiam novo mandato marcado pela instabilidade. Portugueses receosos com a ascensão do Chega a segunda força política e derrota pesada da esquerda.

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Os portugueses acordaram esta segunda-feira em choque e reagiram com desapontamento aos resultados das eleições legislativas, face às perspetivas de um novo governo minoritário, bem como ao triunfo sem precedentes do partido populista Chega, que dá novo impulso à viragem da Europa para a extrema-direita.

A Aliança Democrática de centro-direita, composta pelo PSD e CDS-PP, conquistou 89 dos 230 assentos na Assembleia da República, saindo vitoriosa das eleições de domingo.

Contudo, o resultado deixa a coligação sem uma maioria parlamentar e vulnerável aos partidos da oposição que a derrubaram há dois meses num voto de confiança depois de menos de um ano no poder.

A terceira eleição geral de Portugal em três anos deu pouca esperança para acabar com o pior período de instabilidade política desde há décadas no país.

Marta Costa, residente em Lisboa, disse que sentiu "desilusão e tristeza", após os resultados das eleições. "Eu acho que é muito triste. Estamos a perder o mundo e não estamos a criar um mundo decente para os nossos filhos", refere, acrescentando que o aumento do apoio ao Chega e a ascensão da extrema-direita na Europa é o que mais a preocupa.

"Sinto alguma preocupação, até pelo meu futuro, como jovem, pelas gerações ainda mais jovens do que eu, que estão agora a começar a estudar e a começar a viver, e pelas pessoas que vêm em busca de um melhor estilo de vida e melhores oportunidades aqui no nosso país", diz Henrique Bonifácio, um jovem de 27 anos.

O resultado do Chega abalou o tradicional equilíbrio de poder, uma tendência já vista noutros países da Europa, com partidos como o Rassemblement National em França, os Irmãos de Itália e a Alternativa para a Alemanha, que ascenderam ao mainstream político.

O líder do Chega, André Ventura, tem aparecido em eventos com os líderes desses partidos.

Nos últimos 50 anos, os social-democratas e o Partido Socialista de centro-esquerda têm alternado no poder em Portugal. O Chega veio alterar essa dinâmica bipartidária, conseguindo o mesmo número de assentos que os socialistas - 58 - e ainda poderá reivindicar o estatuto de segunda força política quando forem distribuídos os quatro lugares dos círculos da emigração, cujos resultados serão conhecidos nos próximos dias.

"É o pior cenário possível. O Chega estar a discutir o segundo lugar com o PS é um desastre total. Para mim, incomoda-me seriamente, enquanto portuguesa e enquanto mulher, essencialmente. Acho que é um perigo para todos nós que aquelas pessoas sem pés nem cabeça tenham alguma representação no parlamento", diz Matilde Marques, uma jovem de 24 anos, que reside em Lisboa.

O Chega foi a votos pela primeira vez há apenas seis anos, quando conquistou um assento no Parlamento, e tem vindo a alimentar-se da desaprovação dos eleitores face aos partidos tradicionais mais moderados.

Fazendo campanha com o slogan "Limpar Portugal", descreve-se como um partido nacionalista, tendo como bandeiras o controlo da imigração e o combate à corrupção.

Emilia Gordo, de 55 anos, acredita que os eleitores expressaram o desejo de mudança. "A população está cansada, então querem mudanças e tentam tudo para mudar. Mudar vai ser fundamental. É uma necessidade que o país sente".

Os socialistas, por sua vez, estão sem rumo. Após obter o pior resultado do partido desde 1987, Pedro Nuno Santos apresentou a demissão e pediu eleições internas, rejeitando recandidatar-se à liderança do PS.

O governo da Aliança Democrática perdeu um voto de confiança no parlamento em março, desencadeado por uma tempestade política em torno da potencial violação da lei da exclusividade pelo primeiro-ministro Luís Montenegro. Em causa estava a participação numa empresa familiar de consultoria. Montenegro negou qualquer irregularidade.

Os escândalos de corrupção têm atormentado a política portuguesa nos últimos anos, ajudando a alimentar a ascensão do Chega. Mas o partido recentemente também foi atingido por escândalos, devido à alegada má conduta dos seus próprios parlamentares e dirigentes. Furto de malas, taxa crime de álcool e prostituição de menores são apenas alguns dos casos.

Como reagiu a imprensa internacional às eleições portuguesas?

Esta segunda-feira, a vitória da AD enchia as páginas dos principais jornais internacionais, com grande destaque também para o crescimento do Chega, além da humilhação do PS.

Na vizinha Espanha, o El País dá destaque principal às eleições legislativas em Portugal tanto na edição impressa como no site. O diário espanhol fala no "triunfo conservador", na "forte ascensão dos ultras", e no "revés histórico da esquerda" — sublinhando a demissão de Pedro Nuno Santos. O El Mundo também traz o resultado das legislativas na primeira página. "O conservador Montenegro ganha as eleições e os ultras do Chega empatam com o Partido Socialista", diz o título do jornal espanhol. O La Vanguardia também tem a vitória da AD na capa e na página principal da versão online e fala em "revalidação da direita".

A BBC também deu destaque às eleições portuguesas no site, com o título: "Partido do primeiro-ministro de Portugal vence eleições mas fica aquém da maioria". A estação britânica chama ao Chega de "novato" e dá ênfase à demissão de Pedro Nuno Santos. 

Também o The Guardian deu destaque ao tema na edição impressa, com uma nota sobre a vitória da AD num pequeno quadrado também dedicado às eleições na Roménia e na Polónia. "Partido de centro-direita vence eleições portuguesas enquanto a extrema-direita quebra recordes novamente", diz o título do artigo, que dá ênfase ao recorde de votos do Chega e à dificuldade de Luís Montenegro fechar um acordo de maioria.

Em França, o Le Monde evidencia o "colapso da esquerda para proveito da extrema-direita".

Já em Itália, o Corriere della Sera escreve sobre o "colapso histórico dos socialistas".

Nos jornais brasileiros as eleições portuguesas também são assunto e ganharam espaço nas capas das edições impressas. O tema está na primeira página da Folha de S. Paulo: "Portugal vê ultradireita igualar cadeiras socialistas em derrocada da esquerda".

O Estadão também tem as eleições em destaque no site: "Em Portugal, vitória de centro-direita e avanço da direita radical escancaram derrocada da esquerda".

Nos Estados Unidos, as eleições portuguesas não tiveram muito destaque em órgãos como a CNN, o New York Times, ou a Fox News, que deram mais relevância à vitória do partido de centro na Roménia. ABC News e The Washington Post publicaram notícias de agências internacionais, como a Associated Press.

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