A presidente da Comissão Europeia propôs, pela primeira vez, medidas punitivas contra Israel, devido ao agravamento da situação humanitária em Gaza. No entanto, reconheceu que a aprovação das sanções será difícil, tendo em conta as divergências entre os Estados-Membros da UE.
O anúncio feito por Ursula von der Leyen durante o discurso sobre o Estado da União, este mês, ocorre poucas semanas antes do segundo aniversário da guerra em Gaza. Numa repreensão pouco habitual ao Estado judaico, a presidente da Comissão Europeia criticou a dimensão da campanha militar israelita que, segundo ela, criou uma "fome causada pelo Homem" no território palestiniano.
Na sequência dos atentados de 7 de outubro de 2023 do Hamas, que resultaram em 1200 mortos e 250 reféns, Israel lançou uma operação militar de grande envergadura na Faixa de Gaza, que já causou mais de 64 mil mortos, segundo dados do governo de Gaza liderado pelo Hamas.
Para forçar o governo de Telavive a mudar de rumo, a Comissão Europeia propôs um pacote de medidas, no qual a mais impactante foi a suspensão da componente comercial do Acordo de Associação UE-Israel, uma medida com um custo estimado de 227 milhões de euros para os exportadores israelitas.
Para ser aplicada, esta sanção requer uma maioria qualificada de votos dos 27 Estados-Membros, o que será difícil de conseguir.
"As divisões na Europa são muito, muito profundas. Por um lado, há países que querem avançar com sanções, que acreditam que a Palestina tem direito a ser um Estado, que acreditam na solução dos dois Estados e que querem mais ação", disse Maïa de La Baume, que tem estado a cobrir este tema para a Euronews.
"Por outro lado, há países que também têm laços históricos com Israel, como a Alemanha, a Áustria ou a Chéquia, e que querem preservar o elo sacrossanto que têm com Israel", acrescentou.
O pacote proposto inclui também a suspensão das transferências do orçamento da UE para o programa de cooperação bilateral e sanções contra os ministros israelitas por incitarem ao ódio e contra os colonos violentos que causam destruição na Cisjordânia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Sa'ar, reagiu ao anúncio da Comissão Europeia afirmando que se tratava de um "comportamento inaceitável entre parceiros".
Parlamento Europeu adota resolução no meio de divisões profundas
O Parlamento Europeu aprovou uma resolução (305 votos a favor, 151 contra e 122 abstenções) que apela à tomada de medidas para pôr termo à guerra em Gaza e encontrar uma solução para o conflito israelo-palestiniano.
Hildegard Bentele (Alemanha/PPE), presidente da Delegação para as Relações com Israel, disse à Euronews que "este não é o momento certo" para propor sanções, sobretudo a nível comercial.
"Na resolução, dizemos que a situação humanitária está a melhorar. Preferia que optássemos por uma suspensão condicional (do comércio), ou que déssemos um incentivo a Israel, ao invés de um castigo", disse Bentele.
Em contrapartida, a colega Lynn Boylan (Irlanda/Esquerda), presidente da Delegação para as Relações com a Palestina, afirmou: "Acredito que se tivéssemos agido mais cedo, teríamos passado uma mensagem muito forte e provavelmente teríamos salvo milhares de vidas."
Historicamente, a UE tem defendido uma solução de dois Estados, com Israel e a Palestina a coexistirem pacificamente, e apenas 10 dos 27 países da UE reconheceram a soberania palestiniana. A Espanha, a Irlanda e a Eslovénia fizeram-no após o início da guerra de Gaza, e a França, a Bélgica, Malta e o Luxemburgo anunciaram recentemente a intenção de fazer o mesmo.
A eurodeputada Bentele afirma que se trata de um passo arriscado: "Temos de garantir que este novo Estado da Palestina reconhece o direito de Israel a existir, porque esse é o principal problema na região, e que não abriga terroristas."
No entanto, a eurodeputada Boylan congratulou a medida e afirmou: "Penso que a União Europeia deve reconhecer o Estado da Palestina, mas para mim a principal prioridade tem de ser acabar com a matança, porque, para esse Estado existir, precisamos de uma Palestina com palestinianos."
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Jornalista: Isabel Marques da Silva
Produção de conteúdos: Pilar Montero López
Produção de vídeo: Zacharia Vigneron
Grafismo: Loredana Dumitru
Coordenação editorial: Ana Lázaro Bosch e Jeremy Fleming-Jones